
Depois de um primeiro volume introdutório e de um segundo muito movimentado, chega-nos um terceiro bastante diferente que se apresenta completamente disruptivo – é um volume de episódios fragmentados que ganharão, lentamente, sentido.

Se se recordam, a narrativa nos outros volumes oscilava entre um rapaz num hospício (que não se recorda de parte do seu passado) e um padre que assume uma nova paróquia encontrando uma sucessão de episódios macabros e misteriosos. Este terceiro quebra-se e apresenta Gideon Falls de várias formas e em várias épocas, que têm em comum o padre Burke e um assassino.

Esta fragmentação narrativa é bem acompanhada pelo desenho – flashs, sobreposição de imagens e quebras. Todos estes elementos fazem parte do desenho que parece esconder algo ou ser apresentado sempre por detrás de alguma coisa: uma sombra, um delinear misterioso ou uma intensa coloração vermelha.

A melhor forma de descrever este volume encontra-a em inglês “a wild ride”. Movimentado e saltitante, este volume tira-nos o fôlego. Não é para ser compreendido nas primeiras páginas, mas para ser percepcionado com a apresentação das várias camadas ao longo do volume. Revelam-se alguns mistérios, mas introduz-se um ainda maior e mais complexo – um novo nível de inquietação e incerteza que contamina, ainda mais, a narrativa.

Este terceiro volume revela-se assim como inesperado. Uma viagem forte e pesada que nos leva rapidamente por vários cenários circulares. E é neste círculo que ganhamos altitude e consciência da densidade do mistério do Celeiro, terminando com a sensação de que ainda temos muito por descobrir.

Gideon Falls é, sem dúvida, uma grande série de horror, em que Jeff Lemire usa todas as suas capacidades narrativas para tecer uma mitologia arrasadora. É, neste momento, uma das minhas séries favoritas de horror e este terceiro volume veio dar-lhe um novo folgo narrativo e uma outra camada de mistérios por resolver. Esta série é publicada em Portugal pela G Floy.