
Alice no País das Maravilhas é um daqueles supostos clássicos que agradam a crianças e a adultos. Mas não no meu caso. Odiei o boneco animado e todo o absurdo na história – pelo menos até há alguns anos. Depois comecei a gostar de alguns detalhes – e, mais particularmente, das versões ilustradas da história como a fabulosa edição de Benjamin Lacombe. Este volume adaptado para banda desenhada vem reforçar esse ódio tornado fascínio de uma história carregada de trocadilhos e absurdos, onde a lógica é invertida e revertida.

Alice no País das Maravilhas, da autoria de Lewis Carroll e adaptado para banda desenhada por David Chauvel e Xavier Collette é o segundo volume da colecção Clássicos da Literatura em BD lançada pela Levoir em parceria com a RTP. A ausência de nomes na capa (salvo o de Lewis Carroll) tem gerado alguns comentários, deixando os leitores sem as usuais referências artísticas da banda desenhada.

A colecção, lançada em parceria com a RTP, parece ter optado por um estilo uniforme em capas e apresentação, acreditando que esta omissão de autores possa fazer parte dessa tentativa de uniformização. Mas, ultrapassando a capa, o que encontramos em cada volume, quer em estilo gráfico, quer em estilo narrativo, é bastante diferente.

Nesta adaptação a história encontra-se simplificada, mas bastante compreensível, dentro da irracionalidade que rodeia o enredo original. Esta forma de apresentação não permite uma grande empatia para com a personagem principal, arrastada de episódio em episódio, sem grande escolha sobre o que lhe acontece, uma vez tendo entrado neste reino fantástico.
Ainda assim, a banda desenhada capta bem o espírito da história, com os esperados momentos de lógica demente e invertida, numa narrativa movimentada que flui rapidamente de episódio em episódio.

Em termos visuais, a disposição dos desenhos nem sempre é a tradicional e oscila entre detalhes fascinantes e paisagens fantásticas. As cores, quase sempre em tom pastel, e em variações de uma mesma cor por página, não fornecem muito contraste visual, mas o suficiente para que o desenho seja perceptível.

Este volume não traz grande novidade em termos narrativos, mas possui um visual agradável e criativo. No final apresenta um dossier onde se fala de Lewis Carrol (e as suas várias vertentes), e da sua obra especificando-se, como é de esperar em Alice no País das Maravilhas, com análises à narrativa (A relatividade do Mundo, por exemplo). Neste dossier encontramos, ainda, informação sobre o contexto literário (com textos sobre O Romance Gótico, Frankenstein e Drácula) e duas ilustrações de John Tenniel.

Em conclusão, este volume apresenta aquilo a que se propõe, uma adaptação do romance, mas excede as expectativas pelo desenho e pelo extenso dossier que possui alguma informação interessante para melhor compreender a componente narrativo.