Há cerca de quinze anos era uma leitora compulsiva de ficção histórica devorando praticamente tudo o que apanhava pela frente no género. No seguimento de As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley li várias sagas arturianas começando pelas publicadas pela Editorial Planeta, da autoria de Stephen Lawhead e de Bernard Cornwell. Assim tomei conhecimento destes autores e, após esgotar o que estava disponível em língua portuguesa, explorei a bibliografia de ambos os autores na língua inglesa. Excepto a saga napoleónica de Bernard Cornwell.

Capa de outra edição

Ultrapassada esta fase da ficção histórica (depois de passar por autores como Colleen McCullough ou Steven Saylor) voltei aos géneros da ficção especulativa (sobretudo ficção científica e fantasia) retornando para alguma leitura pontual. Já há mais de uma década tinha achado que os livros de Bernard Cornwell se distinguiam pela sucessão de episódios de acção (maioritariamente guerra), dando pouco foco à construção e desenvolvimento de personagens.

A minha opinião mantém-se. Neste segundo volume da saga, Bernard Cornwell continua a apresentar um grande foco nas estratégias de guerra e nas batalhas corpo a corpo, centrando-se em personagens que são, em suma, grandes e brutos guerreiros, levando, consequentemente, a uma história com as mesmas características narrativas – tais elementos resultam numa leitura rápida e viciante.

Capa de outra edição

Tal como nas minhas experiências anteriores com Bernard Cornwell, este Os Cavaleiros da Morte apresenta a dureza da guerra e dos confrontos armados, mostrando como as populações são facilmente dizimadas por guerreiros armados. Sem experiência de combate, as povoações vão sendo saqueadas à vez por diferentes invasores, depositando todas as suas esperanças nalgum lorde que prometa defender aquelas terras… a troco de um sistema de quase escravidão.

Uthred é um guerreiro saxão criado por dinamarqueses. O seu pai terá sido morto e outro governa agora nas terras que seriam suas por direito. Mas Uthred tem agora uma esposa e um novo lar – do qual está frequentemente ausente para participar em guerras, numa tentativa constante de enriquecer. A sua esposa, Mildrith, é extremamente católica, algo que afastará, ainda mais, o guerreiro da sua casa.

Sem os louros devidos da batalha e entediado pela vida de suposta paz com os dinamarqueses, Uthred decide aproveitar um barco do rei Alfredo para se fingir de dinamarquês e partir pelos mares, com o intuito de saquear e assim obter novas fortunas. Esta viagem trará riquezas, mas também uma nova mulher, mais aventureira, com quem partilhará as aventuras deste volume.

A história é contada pelo próprio Uthred, depreendendo-se pelo tom que o faz enquanto idoso, recordando os tempos de juventude. Retrata-se a si próprio como tempestuoso e reactivo, fervendo em pouca água e pensando pouco nas consequências dos seus actos. Esta postura irá coloca-lo, por diversas vezes, longe dos favores do rei, que pretende fundar um reino cristão de paz e piedade.

Contado em primeira pessoa, a narrativa reflecte as características de Uthred – a tempestuosidade da personagem resulta em várias lutas corpo a corpo (seja para defender a honra ou para responder a uma provocação) e no envolvimento em várias batalhas, quer na terra, quer no mar. Existe, desta forma, alguma explicação estratégica (sobretudo na parte das batalhas) demonstrando-se a experiência bélica da personagem, mas a centralização em Uthred dá-nos uma perspectiva mais próxima do campo de batalha do que a necessária para se explicar uma estratégia.

Neste sentido, este volume cumpre com o que estamos à espera do autor – um livro de acção, com alguma base histórica, que retrata povos que se viam envolvidos em batalhas constantes, quando os navios dinamarqueses sondavam as margens britânicas. A apresentação da história por um guerreiro contribui para o foco nos conflitos, deixando-se de lado os pormenores do quotidiano.

Esta série de Bernard Cornwell está a ser publicada em Portugal pela Saída de Emergência.