O primeiro volume convenceu-me pelo visual e pelas várias linhas narrativas exploradas, ainda que tivesse algumas dúvidas como estas poderiam ser todas exploradas de forma competente. Este segundo volume vem demonstrar como – ainda que possua alguns pontos que não me convenceram totalmente, consegue resolver os vários conflitos usando um elemento externo para os resolver. Existem clichés – nem todos bem explorados, mas alguns levados em contra ciclo, rejeitando a solução mais óbvia e tornando o desenvolvimento mais interessante.

A História

Duas culturas de humanóides colonizam um mesmo planeta, ainda que este já fosse habituado por uma espécie com aparência primitiva. A perspectiva de ambas as culturas é oposta. Enquanto uns são atiçados para a guerra e para o confronto a cada passo, os outros só lutam se forem forçados a tal. Estas diferentes perspectivas sobre o que é força já levou a confrontos no primeiro volume, confrontos que parecem em risco de escalar drasticamente.

Em paralelo, dois jovens das culturas opostas apaixonam-se – uma premissa shakespeariana que constitui um dos principais clichés da história. Outras duas linhas de conflito surgem quando a sociedade original de uma das espécies humanóides ameaça a invasão e quando os alienígenas primitivos revelam uma associação com seres bastante mais poderosos.

A narrativa

O casal de adolescentes, de perspectivas culturais opostas, apresentam-se como o casal proibido, rejeitado por ambas as culturas. Adicionalmente, possuem uma aura de escolhidos que será reconhecida pelos seres alienígenas mais poderosos, cumprindo o papel de uma velha profecia. Esta combinação de premissas poderia levar pelo caminho expectável.

Felizmente, a narrativa rejeita algumas das consequências mais óbvias e dá outro caminho e propósito à dupla. Esta rejeição funciona de forma dúbia. Por um lado, os clichés são usados porque funcionam. Por outro, a solução encontrada para sair do óbvio é interessante mas não responde totalmente à sequência lógica, deixando uma sensação de sentimentos opostos que, dando um resultado positivo em termos de qualidade, se afasta do excepcional.

O desenho

O aspecto é um dos principais elementos diferenciadores e positivos de Sonata. O contraste de texturas e planos resulta em fabulosas, mas estranhas paisagens. As personagens, de aspecto humano, distinguem-se de paisagens rochosas e luz distinta, num efeito fascinante, alienado mas graficamente interessante.

O desenho é competente em posturas e expressões, mostrando fluidez e acção com inclinações corporais ou pequenas sucessões focadas nas faces e nas suas alterações. Esta expressividade é conseguida com alguns alienígenas mais primitivos, demonstrando, também, sentimentos mais absolutos, mas totalmente inexistente com os seres alienígenas mais poderosos que se aproximam dos deuses – uma abordagem interessante que enriquece a interpretação narrativa.

Conclusão

Sonata não é uma série perfeita. A exploração de várias linhas narrativas em simultâneo não é conseguida de forma limpa e as reviravoltas nem sempre são sentidas como coerentes com a globalidade da história (talvez se alguns elementos tivessem sido dispersos em pontos anteriores?). Ainda assim, a narrativa é mais competente que várias outras séries, colocando Sonata como uma boa série, com elementos de ficção científica interessantes, mas que precisava de um pouco mais de domínio narrativo para se tornar excelente e se afastar de forma competente e coerente de alguns clichés que usou.