
Esta banda desenhada é a adaptação da trilogia policial de Dolores Redondo, a Trilogia de Baztán (publicada em Portugal pela Planeta Editora). É um livro enorme, tanto em número de páginas como em tamanho da página. Ainda que o estilo gráfico não me pareça adequado com o tipo de narrativa, é uma leitura agradável que, para além de expor o mistério policial, apresenta vários elementos culturais do país basco, utilizando lendas locais e divindades antigas.
A História
Nesta trilogia Amaia é uma detective policial. O seu mais recente caso leva-a a uma série de crimes na sua terra natal, onde vai ser obrigada a enfrentar o seu passado familiar, mas, também, a explorar alguns elementos das lendas locais. É que as vítimas, jovens raparigas, são encontradas nuas em locais naturais, com um bolo regional sobre si. Pelo menos no primeiro caso.
No segundo caso (que se apresenta em duas fases, e ocupa os dois últimos volumes) ossos de várias crianças surgem, interligados com locais de cultos regionais. Serão simplesmente ossos, ou serão o resultado de sacrifícios humanos? E… como é que um dos ossos tem semelhança genética com Amaia?

A Narrativa
Na maioria de histórias de detectives, as personagens principais são quase sempre anti sociais, viciados nalguma substância e exibem comportamentos estranhos. Esse estilo de detective hard-boiled que é tão usado em histórias policiais não se enquadra aqui. Amaia é uma mulher equilibrada com um casamento estável, apesar dos traumas familiares que vão sendo recordados ao longo da narrativa. Ainda, como chefe da investigação Amaia terá de enfrentar alguns preconceitos para com uma liderança feminina.
A história vai oscilando entre a investigação policial e a vida de Amaia, mostrando conflitos familiares e usando elementos de conversas para explicar algumas pistas que se referem a lendas locais. Todos os casos usam figuras mitológicas bascas como deusas menores e figuras da floresta, interligando-os com doces regionais e simbologias que nos são estranhas.
Apesar da excessiva centralização na vida e no passado de Amaia para a resolução dos casos, a interligação destes com a cultura basca é interessante e distingue esta trilogia de outras séries policiais. Ao apresentar elementos mais próximos do quotidiano da detective cria-se alguma empatia e um outro nível de interesse na história.

O desenho
Os casos policiais apresentados nesta trilogia são pesados. O primeiro caso centra-se num assassino em série de mata jovens adolescentes, retirando-lhes as roupas que serão demasiado ousadas para a idade e adicionando elementos mais infantis e inocentes. Apesar da história ser pesada, o visual não transmite este ambiente.
O desenho, a preto e branco e que é, até, agradável, nem sempre consegue transmitir a seriedade das situações. As expressões parecem quase sempre relaxadas e há pouco suspense ou tensão na forma como os planos são apresentados.

A edição
Este é um livro enorme, que reúne os três volumes adaptados por Ernest Sala. Não só em número de páginas, como em tamanho de página, fazendo com que seja pouco portátil e de leitura difícil. De realçar que tanto o desenho como o texto parecem dimensionados para este formato, pelo que não me parece fácil apresentar a mesma história numa página mais pequena.
Ainda assim, trata-se de um volume de capa dura e lombada cosida, onde se destacam as várias páginas finais de extras. Aqui encontramos estudos das personagens, uma breve referência ao folclore navarro e uma entrevista ao autor, Ernest Sala.

Conclusão
Apesar do desenho agradável, achei que este não se ligava bem com a narrativa, falhando em transmitir tensão nos momentos mais pesados. Ainda assim, em termos narrativos é uma história interessante, com elementos diferentes, que se destaca por explorar alguns episódios familiares da detective. Esta edição não é muito prática mas reúne a trilogia completa.
