Apesar de tudo, 2021 foi dos melhores anos em número de leituras, ainda que não em número de páginas. Segundo o registo do Goodreads foram cerca de 286 (sei que existiram alguns que não coloquei), sendo que cerca de 80% foram de banda desenhada. Eis, destes 20%, quais as melhores! A banda desenhada será apresentada à parte nos próximos dias.
Ficção científica
Escolhas internacionais




The memory police é uma distopia que joga com conceitos originais. A história, centrada numa jovem que já pouco se recorda dos pais, é envolvente, mas pouco reaccionária e o final é algo aberto. É uma leitura surpreendente e cativante que, pasmem-se, se encontra publicada em Portugal pela Relógio d’Água.
Já o segundo volume foi, também, uma surpresa. Desconhecia que tivesse sido publicado recentemente em português e foi com agrado que vi este volume pela Barricada de livros com três contos fabulosos de Ursula Le Guin: O dia antes da revolução e outros contos. São, sobretudo, contos com algum teor político. A edição, em formato pequeno, tem uma boa introdução que não foge ao género da ficção científica, apresentando-o aqui como possível palco de experiências narrativas e, porque não, sociais.
A Tempestade (também publicado em Portugal), apesar da capa minimalista, é uma excelente leitura especulativa que pega nos elementos de romances russos tradicionais (como as suas longas viagens pela neve) cruzando-os com criaturas fantásticas (mas de origem científica) num típico cenário apocalíptico de doença catastrófica para a humanidade. A par com tudo isto, encontramos uma dose de demência bem colocada que facilmente recorda as cenas mais surreais de Twin Peaks.
A Memory Called Empire é, destas três a mais fracas – sobretudo por apresentar elementos que já conhecia de outras narrativas. A história apresenta um grande Império que se encontra ameaçado de várias formas. Uma embaixadora de uma civilização mais fraca assume o seu lugar no Império e descobre a densa trama que levou ao assassinato do seu predecessor. É uma leitura movimentada que pode ser considerada Space Opera e que tem, como principal tecnologia, a possibilidade de captar a mente de uma pessoa para a instalar noutra como suporte a decisões e conhecimento – algo que já tinha visto com Aliette de Bodard.
Escolhas nacionais



Comparativamente a 2020, 2021 ainda teve alguns lançamentos de ficção científica de autores nacionais. Na Imensidão do Universo é uma escolha suspeita, principalmente porque ajudei na escolha dos seleccionados. Trata-se de uma antologia de Space Opera que acaba por conter vários nomes conhecidos no meio, alguns a começar os primeiros passos da ficção científica.
A segunda escolha é o livro de António Ladeira, Montanha Distante. Ainda que tenha gostado mais dos contos, é uma história distópica com toques diferentes, onde quem comanda se apercebe da necessidade de pontos de escape e de tentações como forma de ter o verdadeiro controlo da população. Apresenta, ainda, um chico-espertismo e uma propensão para as cunhas pouco habituais.
Finalmente, Futuro, é uma escolha curiosa – O livro de Lívia Borges apresenta uma história de amor em ambiente apocalíptico que, não se destacando pelas componentes ou explicações científicas, é bastante movimentado.
Fantasia
Escolhas internacionais



The Midnight Library de Matt Haig não está propriamente na fantasia, mas também não está propriamente na ficção científica. Havendo falta de explicações científicas, acabei por o meter na secção de fantasia. Neste romance, uma pessoa tem a possibilidade de explorar várias vidas possíveis. E se… E se tivéssemos respondido de outra forma, tido outras profissões, ou agarrado outras oportunidades? A premissa é engraçada e o tom é leve, resultando numa leitura fluída.
Já The Hollow Places está entre a fantasia e o horror, com elementos que recordam Lovecraft. Uma jovem divorciada vê-se obrigada a procurar novo local para viver. Depois de explorar as ofertas do mercado, acaba por aceitar a proposta do tio em ficar num quarto ligado ao museu de curiosidades. Enquanto o tio é operada, abre-se uma curiosa passagem que a leva para um outro mundo tenebroso.
Curiosamente, Mexican Gotic é, também, uma mistura de fantasia com horror. Este romance de Silvia Moreno-Garcia decorre no México, nos anos 50, utilizando a construção real de edifícios tipicamente ingleses, nas cidades mineiras do México. A autora pega numa jovem rica que passeia de festa em festa. Este quotidiano quebra-se quando é enviada para ajudar a prima recentemente casada, descobrindo, na nova família da prima, uma família de origens ocidentais e costumes rígidos. A partir daqui a história ganha traços de New Weird, usando elementos sobrenaturais e algumas teorias científicas controversas sobre a espécie humana.
Escolhas nacionais


Um gosto a céu no Lago do Breu foi das primeiras leituras de 2021 e ficou, claro, entre as melhores. Para quem conhece e gosta do estilo ácido de João Barreiros, encontra aqui mais uma história que há-de ficar na memória. Neste livro, um professor, descrente em Deus, vai parar ao Inferno. Aqui, vai ser corrompido, como qualquer outra pessoa, mostrando a usual falta de esperança de humanidade de João Barreiros.
Leve e divertido, A Princesa Desencantada de Irina Sopas, é um género de Diário de Bridget Jones moderno. A história proporciona momentos engraçados e que, apesar dos dramas, consegue manter-se ligeira. A história decorre num país fictício e daí o seu enquadramento na secção de fantasia.
Melhores leituras de outros anos