
Eis uma nova série de banda desenhada com tema Western no mercado português! Neste caso, trata-se de um lançamento da Ala dos Livros – mas afinal o que traz esta série de diferente e inovador? Bem, o aspecto da capa (um retrato detalhado e fabuloso) cria grandes expectativas para o seu interior – será que vão ser cumpridas?
A história
Calamity Jane é uma personagem conhecida da história Americana. De nome Martha Jane Cannary, era uma mulher da fronteira conhecida por vestir roupa masculina que contrastava modos rudes com uma compaixão notável, sobretudo pelos pobres ou pelos doentes. A sua história foi publicada numa biografia ditada pela própria, mas que possuirá alguns detalhes incorrectos. O que se sabe é que os mais faleceram deixando-a com 14 anos e vários irmãos para cuidar, numa quinta. Nessa altura, desloca-se com todos os irmãos numa carroça para Piedmont com o objectivo de encontrar trabalho para se sustentar.
Esta série pega nalguns detalhes desta história, retratando Martha como uma mulher honesta e simples que prefere fazer qualquer serviço doméstico (mesmo que mal pago) para não recorrer à prostituição. Apesar de se tentar fazer invisível, a sua mera existência irá ser alvo de atenção masculina, acabando por ser violada e, consequentemente endividada (alguém tem de pagar as despesas médicas que resultaram da violação). Resta-lhe, então, o percurso mais lucrativo da prostituição.
Crítica
Wild West retrata a sociedade da época com todos os elementos tradicionais dos Western: a violência desmedida, a ausência de verdadeira lei ou justiça (pelo menos para os mais fracos), o poder do dinheiro e das balas. As ruas estão carregadas de lama, as casas são mal iluminadas e a limpeza corporal é escassa e duvidosa.
Martha, enquanto mulher sem pai nem marido, é o elo mais fraco, acabando por existir à mercê dos homens, mesmo quando tenta levar uma existência honesta e simples. Muito pouco do que lhe acontece inicialmente é controlado por ela própria – nada que seja de estranhar se considerarmos a época que retrata. Mas depois de enganada e usada irá conseguir tomar parte do seu destino de volta – parte, porque este é apenas o primeiro volume.
Em termos de personagens, estas vão cumprindo o seu papel narrativo, usando-se episódios rápidos para retratar a sua verdadeira índole. Martha começa como uma personagem pouco interessante, mas as circunstâncias irão transformá-la e tornar a narrativa mais envolvente apesar das circunstâncias injustas.
Já o visual, é extraordinário. As perspectivas vão mudando de foco, ora demonstrando expressões ou paisagens, conseguindo captar realismo em qualquer uma destas diferentes visões. O desenho possui movimento e detalhe e as cores complementam a caracterização, revelando as cores escuras e sombrias de uma cidade no Wild West.
Conclusão
A narrativa é boa e envolvente, cativando o leitor e criando interesse pelo próximo volume. Já o desenho é excelente e valeria o volume mesmo que a história não fosse boa. A edição da Ala dos Livros é simples mas prática. Sem extras, mas em capa dura e papel de boa qualidade, o que ajuda a destacar a qualidade do desenho. O resultado final é uma boa leitura que recomendo a quem goste de Western e queira uma abordagem diferente.
Muito bom…enorme, o talento de Lamontagne