Este Manga de horror é bastante diferente das séries de tom mais solto que têm sido publicadas em Portugal. O livro cruza vários níveis de elementos horrendos para entregar uma narrativa que, no final é um pouco mais série do que parece.

A história

A história começa por se centrar num pintor que usa o próprio sangue para criar as suas obras de arte, progredindo para a exploração dos detalhes familiares, e opondo a família que construiu com o ambiente familiar dos seus antepassados, e, também, com aquele em que foi criado.

O pintor apresenta, no primeiro nível, as suas obras grotescas com elementos repugnantes, passando depois a demonstrar como a família que construiu contribui para este espectáculo de particularidades. Mas nada disto é comparável com o ambiente cruel em que foi criado e que lhe terá originado esta peculiar sensibilidade artística.

Crítica

Panorama do Inferno apresenta uma sucessão de horrores, numa espiral crescente e em vários níveis. As obras de arte são macabras, tanto pelos materiais, como por aquilo que retratam, recordando uma tentativa de chocar forçada. Mas quando o relato passa ao enquadramento familiar e às sucessivas situações de abuso, perpetuadas para as gerações seguintes, percebemos que as obras são um escape ao ciclo de horror.

O pintor quebrou esse ciclo de violência. Ainda assim, a família que construiu possui uma aura que recorda um pouco a família Adams pela forma como aborda todos os monstros e horrores – uma família que, no meio de todos estes elementos, consegue ser estranhamente funcional. A apresentação da sua família é estranha, mas quando o pintor passa a descrever os pais e os avôs, percebemos que o trauma dominou as gerações anteriores.

Mas, novamente, se as situações de abuso familiar, agressividade e negligência podem parecer muito mais pesadas do que os quadros (colocados agora em perspectiva), a alusão às atrocidades da guerra, e mais propriamente da Segunda Guerra Mundial, esmaga-as em peso em sentimento negativo enquanto nos apresenta o horror da realidade – a loucura é crescente.

Em termos visuais, o volume apresenta uma arte típica do Manga, mas que destaca o horror e afasta as expressões fofinhas para destacar contornos progressivos de vários tipos de loucura – esta progressão é, para além de narrativa, visual.

Conclusão

Panorama do Inferno é uma leitura bastante peculiar e, diria até, uma aposta arriscada para uma nova Editora no mercado. É uma boa leitura para quem gosta de horror e macabro pela forma como explora vários níveis de grotesco, mas afasta-se bastante do estilo habitual do que costuma ser publicado em Portugal.