Livro de visual curioso, remete-nos para os clichés iniciais das histórias fantásticas, mas numa perspectiva pouco usual. O desenho da capa é curioso e, conjuntamente com a capa, suscita alguma curiosidade.

A história

Os que ficam leva-nos ao início de várias histórias fantásticas onde as crianças são acordadas por criaturas que as levam para grandes aventures em reinos fantásticos. Mas ao invés de nos mostrar as aventuras dessas crianças, a história prossegue mostrando-nos o impacto que a ausência da criança tem nos pais, principalmente nos dias de hoje.

É o que acontece a um casal que se vê sem o filho. Chamam a polícia, investigam por todos os cantos do país, distribuem panfletos e dão entrevistas, com o objectivo de voltarem a ver a criança. No entanto, com o passar do tempo e a falta de pistas, esta exposição vai ter o efeito contrário e trazer suspeitas sobre o que realmente se terá passado com o filho deste casal.

Paralelamente, o casal descobre uma associação para pais que passaram pela mesma situação. De casal em casal, cada um expõe a sua situação, falando de diferentes reinos encantados que usam estas crianças para os seus próprios fins – pelo menos durante algum tempo.

Crítica

Los que quedan usa uma perspectiva diferente, relativando o extraordinário evento de se levar uma criança para a salvação de um mundo fantástico. Por um lado, explora a aflição dos pais que procuram pelo filho, desesperados. Por outro, chega ao ponto de apresentar as consequências para a própria criança que um dia se tornará num adulto.

Neste sentido, a narrativa surpreende, usando um cliché da fantasia para conseguir construir uma história totalmente diferente. As amorosas criaturas fantásticas serão mais egoístas do que parecem, e as crianças humanas acabam por se afastar da sociedade. Paralelamente, os pais sofrem com a ausência inexplicável.

A narrativa cria empatia ainda que não se dedique a uma profunda caracterização das personagens. Interessa mais a situação em que se encontram do que os detalhes pessoais de cada uma das personagens. Neste ponto, acho que se esta dimensão tivesse sido explorada, poderiamos ter uma obra extraordinária – assim, temos “apenas” uma boa leitura, que aborda uma lógica muito diferente no habitual cliché fantástico.

Um dos pontos, tangenciais que se deve destacar é a forma como os meios de comunicação usam as desgraçadas alheias para tecer teorias desagradáveis ou incitar suspeitas nos ouvintes, como forma de captar a atenção de mais pessoas. Estas teorias podem levar a consequências graves, mesmo para quem é inocente.

Conclusão

Los que quedan é uma boa história que usa de forma inovadora um início comum a tantas outras histórias fantásticas. O foco nos que ficam é interessante e permite uma abordagem diferente. O resultado é bom e, apesar de não atingir o extroardinário, recomendo.