
Doutorada em virologia, Nessa Carey é (entre outras coisas) a autora de uma série de livros de divulgação científica sobre biologia molecular (ou genética) onde fala sobre edição de código genético, ou das novas técnicas moleculares para descobrir novos medicamentos. Dentro desta área, fascina-me sobretudo a epigenética – a área da biologia molecular onde se estudam as alterações fenotípicas que são provocadas pelo ligar ou desligar de genes (significado simplista, claro).
A genética mendeliana baseia-se nas descobertas de Gregor Mendel (e mais tarde de Thomas Hunt Morgan com o cromossoma) em que as características são passadas para a descendência. Estas descobertas, em conjugação com a Teoria da Evolução de Darwin, são a base dos estudos genéticos.
Mas se parecia que a teoria Lamarckista (em que os organismos podem adquirir características que seriam passadas para as gerações futuras) estava completamente ultrapassada, com a epigenética percebe-se que a realidade é mais complexa. Não, até ao momento, não parece que os organismos adquiram características novas, mas os genes podem ligar-se e desligar-se – e não é que vá crescer um terceiro olho na testa durante a idade adulta, mas existem momentos de stress que podem ligar ou desligar alguns genes, e estes genes podem aparecer ligados ou desligados na descendência.
Nessa Carey começa por explicar, de forma bastante simples, o que são genes e como é que estes podem ser ligados ou desligados. Podem, também, existir diferenças na expressão génica, com genes mais ligados ou menos ligados, e não necessariamente um mecanismo simples de ligado / desligado. Para quem tem formação de biologia / genética / biologia molecular, esta parte é algo secante, mas percebo ser necessária para explicar a quem não é do meio.
A parte interessante é, sobretudo, a percepção de que o meio envolvente pode influenciar a saúde dos organismos – mas não afecta apenas aquele organismo em concreto, mas também os seus descendentes, mesmo quando estes mudam de localização e são expostos a outros estímulos.
A autora avança, dando exemplos simples, mas concretos, com doenças e síndromes, explicando experiências e resultados de forma competente. Com o avançar do livro, a complexidade vai aumentando e a autora aumenta a densidade de terminologia científica, com exemplos mais elaborados ou complexos.
É portanto, desbalanceado. Começa com explicações bastante simples e acessíveis, mas com a progressão poderá perder alguns leitores, quando começa a apresentar directamente nomes de genes e proteínas, sendo que poderia, nalguns desses casos, explicar os conceitos de forma mais abstracta, e, dessa forma, mais legível.
É, no entanto, um livro de divulgação científica interessante, que pode transmitir conceitos de genética e de epigenética, mostrando que as experiências de Mendel, tendo sido muito úteis para servirem de base para a maioria do que se faz em genética, são um modelo muito simples.