Eis uma série que já me tinha passado pela frente, mas que não tinha tido oportunidade de ler – até porque nas livrarias não se encontram os dois primeiros volumes. Este primeiro, conjuntamente com o segundo, vieram de um leilão de livros usados.

A história

Neste primeiro volume conhecemos um director editorial, Simon, a quem a vida vai correndo de mal a pior. Entre a incapacidade de produzir um manuscrito e um relacionamento amoroso em término catastrófico, Simon desespera. E não é totalmente de estranhar quando ignora mais um manuscrito com elevadas promessas lhe é deixado no escritório pelas mãos de uma velhota.

Até ao dia em que a velhota o visita mais uma vez, e ao deixar o seu estabelecimento falece atropelada. Roído de remorso, Simon decide-se a ler finalmente o manuscrito herdado pela velhota, descobrindo uma obra prima. Mas não havendo ninguém para reclamar a sua autoria, porque não assinar a publicação do livro com o seu próprio nome?

Em pano de fundo, decorrem vários assassinatos – mas que relação terão estes assassinatos com o enredo principal?

Crítica

Este primeiro volume pode ser lido isoladamente, contendo uma história com princípio, meio e fim. Trata-se, sobretudo, de uma história de corrupção, em que a personagem principal, a partir de uma simples decisão, vai entrando num caminho de trapaça crescente, numa farsa que vai determinadar todas as acções futuras.

Após a apresentação da personagem e das suas circunstâncias, a história vai entrar, portanto, numa espiral de declínio moral. Tomada uma primeira decisão, o caminho está traçado e por forma a manter as aparências, o escritor vê-se forçado a seguir por caminhos cada vez mais obscuros. Esta espiral vai levar a uma crescente tensão na narrativa, acelerando-se a descida com a passagem das páginas. Entre o que vai ocorrendo à personagem e os assassinatos, a história agarra o leitor, com um ritmo crescente.

A história vai cruzando vários níveis de mistério, sendo o principal, claro, o próprio livro. De origem desconhecida, cruza vários elementos que serão difíceis de investigar para a sua concretização. Outro mistério serão os assassinatos que vão sendo mostrados ao longo do decorrer da história. Mas o que faz avançar a linha narrativa é mesmo Simon, o editor de vida falhada, que se resolve a dar a volta à sua vida ao publicar o misterioso manuscrito que lhe chega às mãos, em nome próprio.

A par com a história encontramos um desenho detalhado, em que o traço clássico consegue captar movimento e expressão. Os desenhos nem sempre optam pelos ângulos tradicionais, e vão variando, o que ajuda a conferir movimento à narrativa, mesmo nos momentos mais pausados. A estrutura visual é algo clássica, sem grandes experimentações, mas com alternância do tamanho dos quadrados, o que confere foco e cadência narrativa. Os tons são sobretudo de pastel, com poucos contrastes, existindo momentos em que se reforça a predominância de uma cor para dar o ambiente.

Conclusão

Este primeiro volume apresenta uma história em torno do Decálogo. Já tendo, entretanto, lido o segundo volume, posso dizer que também este apresenta uma história isolada, em torno do livro. Ambas as histórias são movimentadas, partilhando um pouco esta estrutura de um mau momento que parece decidir toda a sucessão narrativa. Apesar de serem histórias separadas, o que espero é que o conjunto das várias histórias vá construindo um mistério maior em torno do Decálogo. Independentemente das possibilidades do conjunto, a leitura deste único volume é aconselhada por si só.

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