Apesar de ter visto várias referências ao livro, foi só quando um amigo mo recomendou que a curiosidade se instalou. Ainda bem – há muito tempo que não era tão positivamente surpreendida por uma história. Vencedor dos prémios Hugo, Nebula e British Fantasy Awards, Among Others, não é uma obra que se distinga pela aventura (que é escassa), nem pela componente fantástica, mas pela personagem principal. A combinação dos diversos factores tornou a história diferente de tudo o que poderia esperar.
Mori, a personagem principal, perdeu a irmã gémea num trágico acidente que crê provocado pela mãe, demente. Ainda que tenha escapado viva, ficou com lesões que a deixaram dependente de um cajado e com dores crónicas. Após o acidente foge de casa, e refugia-se com o pai que não conhecia, um homem que vive à custa das três irmãs ricas e solteiras, com quem partilha o gosto pela leitura, principalmente de fantasia e ficção científica.
Como é tradição na família paterna, Mori é colocada num colégio interno, onde a fisionomia galega e o sotaque carregadoa distinguem dos restantes. Mas não são esses os únicos pontos de discrepância: Mori identifica-se pouco com as colegas que despertam para a adolescência, e acaba por procurar amigos na vila próxima, mais concretamente num clube de leitura onde se vão discutindo vários autores de ficção científica.
Contada pela perspectiva de Mori, a história alterna entre a vivência de uma jovem que não se enquadra no ambiente onde é obrigada a viver, a sua crença nas fadas e na magia, e a opinião dos vários livros que lê. E este é um dos pontos altos e, julgo, uma das razões para ter criado uma forte empatia com a história: Mori é uma leitora voraz que anda sempre à procura da próxima leitura e os livros de que fala devem ser mais do que as páginas da história.