Tive oportunidade de ler o primeiro livro de Afonso Cruz há cerca de cinco anos. Tratava-se do primeiro volume de Enciclopédia da Estória Universal, publicado numa edição mais simples, mas a meu ver, mais bonita do que esta em capa dura mas menos inspiradora de sonhos. Após vencer o prémio de Conto Camilo Castelo Branco a editora Alfaguara propõe-se a publicar anualmente um volume da Enciclopédia da Estória Universal, agora transformada em mini colecção.
Depois do primeiro livro seguiram-se outros do autor de que gostei bastante, mas não tanto. Desta forma, não esperava que outro livro do autor me surpreendesse, mas foi o que aconteceu com Mar. Tal como o primeiro volume, sobre o pretexto da ordenação alfabética vão aparecendo várias histórias que se cruzam, histórias centradas no mar, esse gigante azul que simultaneamente afasta e aproxima as pessoas.
A primeira grande história é a de uma rapariga que vive com uma população deveras religiosa que terá abdicado de todos os bens materiais que não sejam essenciais. Educada por um pai duro e seco, sente-se pequena a cada nova reprimenda, tão pequena quanto a mãe que se matou, pendurada numa corda. Silenciosa, sem poder demonstrar tristeza, sente-se fria e escura e apenas voltará a ganhar cor ao descobrir, na praia, garrafas que trazem mensagens, pequenos poemas de amor que a transformam numa santa.
Devagar, vamos descobrindo a orgem das mensagens e de que forma se relacionam com as restantes histórias do volume, onde cada entrada pode conter apenas um pensamento, uma ideia ou uma revelação: histórias de amor e de solidão, de destinos perdidos e sonhos reencontrados. Algumas histórias são curtas e fechadas em si próprias, outras são longas e ramificam-se por todo o livro.
Oscilando em forma e conteúdo, com curtas histórias que ocupam uma página inteira em letras gigantes, ou outras longas de caracteres diminutos que se alongam por várias páginas, este volume de Enciclopédia está belissimamente bem escrito tendo sido um dos livros que mais prazer me deu a ler nos últimos tempos.
4 comments