Mil Anos de Esquecimento é o mais recente volume de Enciclopédia da Estória Universal, o sexto se contarmos com o primeiro lançado pela Quetzal. Mantendo o formato já conhecido, de várias entradas alfabeticamente ordenadas, sendo que algumas são pequenas notas, frases curtas com enorme significado e outras são contos completos, este volume é um dos melhores do conjunto por conter uma extraordinária história que ocupa quase metade do volume.
E apesar de ter achado esta história extraordinária, não consigo classificar este volume, no seu todo, como muito bom. Por um lado, sofre do mesmo problema que outros anteriores, desbalanceado na distribuição de conteúdos curtos e longos. Por outro, possui alguns conteúdos que já li, integralmente, noutros livros do autor. Ainda, falta-lhe o intenso intercruzar de entradas que tornava o primeiro, lançado pela Quetzal, tão coeso e excelente.
A história que dá nome ao livro apresenta um homem, um pintor, que terá estado nas melhores companhias e privado com nobres e pintores influentes. Viajando em terras mais orientais encontra dois montes e, em cada um deles, uma cidade. Quando se aproxima de uma delas é preso e maltratado, tal como os seus dois servos.
A recepção do pintor é, afinal, um engano, provocado pelas longas disputas entre as duas cidades, cada uma seguidora de uma corrente filosófica diferente, e tão fanáticos nas suas certezas que da discordância nasceu uma guerra mortal, que, das ocasionais escaramuças já passou a expedições para capturar e matar os habitantes da cidade vizinha.
Interessante pela forma como explora a idiotice das guerras, principalmente quando causadas por discordâncias ideológicas, a história principal deste volume poderia constituir, por si, um livro autónomo, o que beneficiaria a história, e o restante conjunto da enciclopédia.
Quando tenho muitos livros para ler, tenho escolha. Quanto menos tiver, mais a minha liberdade está confinada. Ela depende dos livros que não são lidos. Se temos apenas um caminho, não temos liberdade, teremos impreterivelmente de o seguir. Para ela existir, temos de ter possibilidades, muitas, porque só daí pode resultar uma escolha lúcida.
Para além da história, as restantes páginas são preenchidas com frases mais curtas ou pequenas histórias, com relação entre algumas das entradas, de onde se destaca a história do homem que julgou ter sido salvo do mar por um bando de loucos, quando estes lhe explicam o seu objectivo de atingir a Índia na direcção do que é claramente o fim do Mundo, ou a história de uma mulher que espera pela carta do seu amor, dia após dias, sem perceber porque tais cartas nunca chegam (apesar de nós, leitores, sabermos que tais cartas são escritas).
De leitura muito aconselhável, este volume vem redimir a sensação de vazio transmitida no último volume, apresentando boas histórias numa combinação que, não sendo muito equilibrada, contém excelentes ideias.
Opinião sobre os restantes volumes da Enciclopédia da Estória Universal