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A filha de Lord Byron, o famoso escritor conhecido pelo seu carácter peculiar, foi propositadamente educada nas matemáticas como forma de se afastar das influências nefastas que a poesia poderia ter no seu espírito (não fosse sair ao pai). Mas segundo as crenças da época, também não poderia dedicar-se muito à ciência pois o corpo da mulher, mais frágil, não aguentaria a pressão mental de estudos muito aprofundados.

Não seguindo estas crenças, Lovelace tornou-se uma notável matemática e foi nesta capacidade que conheceu Babbage, o cientistas pioneiro que terá inventado o conceito de computador – uma máquina programável. Neste seguimento, Lovelace terá trabalhado com Babbage e, apesar de não terem chegado a construir a máquina, publicaram um artigo em que Lovelace apresenta o primeiro algoritmo, o primeiro programa para o computador de Babbage.

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Sob pequenos trechos de banda desenhada Sydney Padua conta-nos como teria acontecido o primeiro encontro destes dois génios, bem como a colaboração que daria origem ao primeiro artigo científica sobre o tema. Infelizmente, por falta de financiamento estatal e por alguns detalhes perfeccionistas que Babbage quereria impor, a grande máquina programável nunca teria sido construída.

Mas… e se estes dois obstáculos não tivessem surgido? Num pequeno Universo paralelo assim foi, Babbage e Lovelace conseguiram construir a máquina e utilizá-la, um colosso de engrenagens capaz de resolver contas máquinas e de efectuar outras tarefas de acordo com os algoritmos com que o programavam.

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É nesta realidade altenrativa que decorre a maioria das tiras cómicas de banda desenhada, que nos apresentam dois cientistas, um Babbage pouco dado a convenções sociais (de acordo com as descrições reais existentes) e pouco capaz de utilizar o charme como forma de obter financiamentos. Felizmente Lovelace é mais carismática e diplomática e estas características, junto com o seu génio matemático, contribuem para a concretização do sonho.

The chinese room imagines a closed room containing a slot leading ouside, a complete set of rote instructions on responding to a given set of chinese characters, and a person ignorant of the chinese language. Someone feeds questions in chinese throught the slot, to which the inhabitant of the Chinese room replies by consulting instructions and feeding the resulting responses back through the slot. If the questioner cannot tell the difference between someone with a really great set of instructions and someone who actually understands chinese, how can we distinguish between a human being “understanding” a communication and a computer stepping through an algorithm?

(e apesar de esta frase ser sobre programação, faz-me recordar o princípio de Turing)

Entre o ar caricato de Lovelace e a loucura de Babbage, a história desenrola-se em apaixonantes tiras a preto e branco, carregadas de engrenagens e maquinetas, onde não faltam as pequenas tiradas geek, seja a satirizar as crenças da época, seja a expor o génio pouco convencional de algumas personagens, seja pela apresentação de uma perspectiva intensamente analítica onde os acontecimentos são racionalizados.

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Carregado de notas de rodapé, artigos justificativos e explicações matemáticas, o autor não deixou os pequenos episódios ao acaso e mesmo aqueles que nunca aconteceram (porque a máquina nunca foi construída), por mais satíricos que sejam, possuem sempre pequenos trechos de verdade que o autor detalha. Não faltam, assim, contas em binário, codificações e descodificações e, até, como surgiu a lógica por detrás da programação mais simples (que a todos moi a cabeça, entre AND’s, NOT NOT’s e OR’s).

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E se algum defeito que pode ser apontado ao conjunto de episódios que constitui The Thrilling Adventures of Lovelace and Babbage é exactamente a densidade de notas adicionais que podem quebrar algum ritmo da leitura. Mas, também, são estas notas que dão a experiência peculiar à leitura e que transformam esta banda desenhada em algo educativo e interessante, muito para além do tom leve e jocoso do aspecto visual.

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