Esqueçam os Chain Saw Massacres, as sangrias, os desmembramentos ao calhas ou os psicopatas com o seu distanciamento social. O horror que funciona melhor comigo é aquele usa elementos naturais e antigos, quase familiares, e que transforma facilmente os monstros em seres mais aprazíveis que os humanos. E os humanos em monstros.
A utilização de elementos naturais e antigos apela ao que de mais primitivo existe no nosso cérebro, usando as reminiscências de uma existência na selva em que connosco conviviam monstros indescritíveis. A utilização as sombras do cenário conhecido, percepcionado como seguro e saudável, e a transformação em buracos sem fundos pela exploração de possibilidades que o cansaço em noites escuras pode recuperar, é o tipo de horror que a nossa mente irá recordar mais tarde.

Por sua vez, a dissociação entre a aparência e a capacidade para agir maleficamente é, também, um aspecto interessante. Se não conseguimos distinguir quem é capaz de actos horrendos a olho nú, como nos poderemos proteger? E se todos forem capaz de actos horrendos bastando, para tal, estarem apavorados? Em Harrow County o medo é, não só a força principal que move a história como o elemento que cativa o leitor.
Estas duas características, a familiaridade do monstro e o cenário primitivo, são fundamentais para transformar Harrow County numa das séries de topo em qualquer lista de banda desenhada de horror, e uma das melhores obras de horror publicadas recentemente em Portugal.
Harrow County é uma pequena vila que se deparou com as consequências de recorrer às mezinhas de uma bruxa – a energia vital usada para curar alguém tem de provir de algum lado e as consequências fazem-se sentir no gado e nas colheitas. Assustados, decidem tentar matar a bruxa de todas as formas possíveis. Quando finalmente o conseguem, pelo fogo, numa árvore, fica a promessa de um retorno.
Os receios da população ganham corpo quando, mais tarde, na mesma árvore, é descoberta uma criança. Esperançoso de a poder desviar do percurso que julgam óbvio, um homem educa a criança. Atingindo a idade adulta sem nunca ter saído da vila, a jovem Emmy parecia ter contrariado o destino, não fosse assistir a um parto desastroso de uma vaca e curar, inconscientemente o vitelo que deveria estar morto.

A partir deste episódio o medo fervilha na população que se decide a tentar acabar, novamente, com a bruxaria, ainda que, neste caso, não tenha sido demonstrado nenhum sinal de poder maléfico. A jovem Emmy foge e é, nesta fuga, que descobre as capacidades adormecidas e a sua verdadeira natureza com uma sucessão de encontros sobrenaturais que superam todas as expectativas que o leitor possa ter.
Demonstrando que o horror pode ser gerado pelo crescimento do medo e que os monstros nem sempre são aqueles que o aparentam, o primeiro volume de Hallow County explora a temática utilizando elementos primitivos num ambiente rural de grande familiaridade.
Em Portugal Hallow County foi publicado pela G Floy.