Este livro publicado pela Teodolito é uma pequena antologia de contos da autoria de Rui Zink. A maioria destes não pertencem explicitamente ao género da ficção especulativa, ainda que façam alusão ao género e deambulam entre a fronteira da ficção e da realidade.

O primeiro conto do conjunto, A Metaformose, retrata o quotidiano de uma família enquanto aguarda que Gregor Samsa se transforme. Talvez numa barata ou talvez noutro insecto, mas decerto que se transformará, fazendo finalmente a fortuna da família que outrora já foi rica e que, agora, lhe cobra esta transformação.

Já em O Jogo Literário um escritor disserta sobre o impacto que tem, para o seu trabalho, o corte da luz.  Principalmente quando o computador está ligado e o escritor ausente, sem possibilidade de o guardar devidamente antes do corte. E que respeito terão os trabalhadores da obra para com o seu trabalho quando pensam em desligar, assim, repentinamente, o computador?

Monzeit é uma história sobre uma personagem (será ficcional, será real) que estará por detrás de todos os grandes espaços e de todas as grandes publicações que residem na memória do narrador com grande saudade. Trata-se do episódio de encontro com esta personagem, numa longa conversa que poderá, ou não, ter existido.

Aquashow demonstra a diferença de classes perante um fenómeno natural. Alguns, mediante o pagamento de bilhete, assistem de lugar privilegiado, com todas as mordomias possíveis, podendo vivenciar do espectáculor por inteiro. Já os restantes, amontoam-se no local possível, gratuitamente, sendo alvo dos comentários dos que lá abaixo, de copos na mão, aguardam o evento.

Largar Kristeva, por sua vez, é um diálogo sobre amores e desamores, listando motivos para afastamento e proximidade. A este diálogo sucede-se Pandora Boxe que acompanha os primeiros dias de um casal na nova casa. Sem luz, sem água e sem electricidade, afastam-se progressivamente do convívio civilizado, embirrando um com o outro, pela falta destes elementos. A compilação termina com um pequeno episódio, A Gaivota e o Peixe, em que um homem é persuadido a alimentar uma gaivota, mas a cena não se desenvolve dentro dos parâmetros da normalidade.

Se, nalgumas histórias de fala da ficção como realidade, aguardando a sua concretização como se de uma profecia se tratasse, noutras historias fala-se de possibilidades e imaginações em narrativas fechadas e auto-contidas. Tratam-se, sobretudo, de jogos de ideias e de conceitos, deambulações quase circulares em que cada iteracção se aproxima cada vez mais do seu fecho. O conjunto é de leitura agradável e ralaxada, ainda que não se possa dizer, da maioria, que explora a narrativa. Algumas fazem-no de forma episódica, outras são deambulações, pensamentos que se vão expondo.