
Bastante diferente de A demanda de G ou de Edição Extra, este volume de Derradé apresenta um homem que decidiu largar o emprego de IT e abrir a sua própria loja de banda desenhada! Esta mudança radical leva a que a esposa o abandone, mas, na loja, irá viver uma série de aventuras livrescas.

O volume começa com a apresentação de um emprego de tecnologia típico – as horas extra não remuneradas, os constantes chavões em inglês que visam dar um ar de maior seriedade (e entendimento do conceito), as actividades em equipa fora de horas para aumentar o commitment à equipa. Quem trabalha neste meio decerto irá perceber que se trata de uma boa caracterização (com uns toques de sátira).

Já a realidade na loja começa, também, com um cliché em relação à banda desenhada, mais propriamente na apresentação de alguns adultos que vêem, nesta arte, uma ameaça à literacia juvenil, não sabendo, na sua maioria do que estão a falar – até porque banda desenhada não é, ao contrário do se pensa, para crianças (ainda que existam alguns livros mais juvenis).

No episódio seguinte uma multidão ergue-se contra a loja, afirmando tratar-se de um local onde se ameaçam a moral e os bons costumes. A multidão, composta por beatas, afirma nunca terem lido os livros contra os quais se insurgem, falando daquilo que não sabe e demonstrando, desta forma, todo o preconceito contra o género.

Seguem-se vários outros episódios engraçados em torno da banda desenhada, onde se destacam as referências a várias personalidades (desde autores a editores) – Filipe Melo é um conhecedor do sobrenatural que ajuda a caçar um fantasma, enquanto Geraldes Lino fulmina uma personagem por dizer “A Fanzine”. Reconhecem-se, também, alguns editores de banda desenhada portuguesa, bem como alguns fãs.

A Loja de Derradé destaca-se por ser um livro de autoria portuguesa que usa o humor como elemento narrativo – algo que, neste momento, temos poucos autores portugueses a fazer (aqui destaca-se, também, Álvaro). Usando elementos cómicos o autor vai apresentando caricaturas de várias profissões, preconceitos e pessoas, resultando numa combinação agradável e de leitura recomendável!

A Loja foi publicado em Portugal pela editora Polvo.