É oficial. Os livros de Gillen deixam-me um sabor agridoce. Visualmente divertido, depois da boa experiência com Once & Future, resolvi-me a experimentar esta nova série. Tem momentos geniais. Mas não só.

A história

O título advém da palavra Ludicrious, que em português significará ridículo ou absurdo, e pretende apresentar os aristocratas do absurdo, personalidades ficcionais (e com toques mitológicos ou fantásticos) que se defendem do tédio das mais ridículas formas – demandas idiotas, hábitos disparatados, conversas tolas e acções insensatas (ou até, passíveis de proporcionar vergonha a todos os envolvidos).

A história centra-se num Ludocrata em especial, uma personagem pouco inteligente mas muito activa e impulsiva! As piores ideias podem advir deste Ludocrata! Felizmente, no seu grupo de amigos (ou conhecidos, ou parceiros) encontra-se uma cientista que irá ajudar a viabilizar os planos mais inacreditáveis.

Crítica

A ideia por detrás de Ludocrats é engraçada, cruzando elementos mitológicos com fantásticos, enquanto explora, com toda a força as possibilidades da premissa. A utilização de elementos mitológicos não é nova, sendo passível de ser observada ao longo das várias séries de Guillen. Aliás, diria que este é um traço distintivo das suas narrativas, reformulando poderes e histórias épicas e conferindo-lhes uma aura moderna e, até, tecnológica.

Este aspecto é, sobretudo, o que me tem atraído sucessivamenta para os livros da autora, mesmo quando séries anteriores falham em se tornar leituras favoritas. The Complete Phonogram possuía, também, uma premissa original mas acaba por ter uma série de personagens que não me cativaram. Já em The Wicked + The Divine, achei que as personagens se pareciam demasiado a estrelas pop num caminho destrutivo. O correcto equilíbrio da história terá sido conseguido para mim em Once & Future, onde se usam as lendas arturianas para criar uma história contemporânea de caçador de monstros que entreçalaça histórias e personagens modernas. O que terá, a meu ver, corrido melhor nesta? Trata-se de uma narrativa muito movimentada que consegue centrar-se num número mais limitado de personagens, nas quais investe para as caracterizar.

Bem, mas voltemos a The Ludocrats. Sim, a ideia parece enquadrar-se no meu género, com elementos absurdos e mitológicos. Afinal o que não me cativou? O exagero e a verborreia. O livro tem momentos brutais que irão deliciar qualquer leitor que goste do absurdo e dos jogos de palavras e de ideias. Mas algumas das boas ideias são exploradas ao excesso, sendo que a narrativa tem momentos de pausa onde apresenta cartas e artigos de jornais que explicam alguns detalhes culturais. Esta componente, a da explicação, torna-se cansativa afastando-se do clássico conselho “Show, don’t tell”.

A par com estes artigos semi explicativos, a história apresenta, em determinados momentos, longos discursos explicativos que recordam as verborreias daquelas pessoas que gostam de se ouvir durante demasiado tempo. Estes longos discursos travam a acção e diminuem a velocidade narrativa. No meu caso, diminuíram o interesse do que poderia ter sido uma leitura mais interessante e quebraram o propósito lúdico com que peguei no livro.

Mas, como disse, a maioria do livro é engraçado. Retirando estes discursos abusivos, a história apresenta ideias geniais e episódios mirabolantes, situações absurdas e ridículas, centrando-se numa personagem impulsiva e pouco sensata que é dada às mais variadas e divertidas parvoices. Os desenhos ajudam a compor o absurdo, com cores berrantes que recordam o I Hate Fairyland, e desenhos exagerados com figuras caricaturescas.

Conclusão

Esta é daquelas leituras que poderia, a meu ver, ter-se tornado excepcional, se não tentasse levar-se tanto a sério nalguns momentos. É, ainda assim, aconselhável a quem queira ler algo com excelentes momentos de absurdo!