
Last Kingdom ou O Último Reino é o nome de uma das mais recentes sagas de ficção histórica de Bernard Cornwell, um autor que começou por ser publicado em Portugal com uma trilogia arturiana. Na altura, há cerca de 20 anos, li todos os livros publicados do autor em português, e alguns em inglês, afastando-me, no entanto, da série Sharpe que se centra nas invasões napoleónicas.
Esta saga começou lentamente e enganou-me o suficiente para agora perceber que nem a meio estou de uma série de 13 livros! Bem, mas vamos prosseguindo, intercalando os livros da série com outros, já que já não tenho muita paciência para ler de seguida grandes sagas. Esta série foi, entretanto, adaptada para série televisiva e está a ser lançada em Portugal pela Saída de Emergência.
A série O Último Reino decorre no reinado de Alfredo O Grande, um rei que terá ficado na história de Inglaterra como tendo implementado importantes reformas administrativas e militares. O seu reinado decorreu entre os anos 871 e 899 e foi marcado por intensas tentativas de invasões dos vikings, conjuntos de bárbaros da Europa do Norte, que eram, na perspectiva de Alfredo, pagões.




Na ficção apresentada por Bernard Cornwell, a história não se centrada no rei, mas numa personagem ficcional, um suposto chefe militar de Alfredo – Uhtred. Este Uhtred, filho de um nobre, terá sido adoptado por uma família Viking. No decorrer dos livros anteriores, tece um plano para reconquistar as terras perdidas para o tio, mas para tal, terá de obter favores e dinheiro, entrando ao serviço de Alfredo.
Uhtred não é, no entanto, uma personagem muito sagaz. Homem impulsivo, vai ganhando a experiência militar que lhe dará fortes vitórias e lhe garantem um lugar sob Alfredo – apesar de ter um relacionamento com o rei. Por um lado, vê-se obrigado a prestar-lhe vassalagem, mas como pagão (e educado com regras vikings) acaba por nunca se encaixar totalmente na corte, desprezando a religião pagã.
Bernard Corwnell usa esta personagem peculiar para nos ir apresentando as diferentes realidades da Inglaterra do século IX. Por um lado, Uhtred tem amigos entre os vikings e percebe as suas motivações e rituais, por outro, Uhtred é exposto a algumas das mais importantes batalhas da época e tem um papel determinante nestas.




Ainda assim, a história é demasiado centrada na perspectiva de uma única personagem. Ainda que esteja onde é necessário, Uhtred tem uma visão limitada. A sua voz é a que acompanha a narrativa – a de um Uhtred velho que se recorda do que aconteceu, acrescentando detalhes interessantes que à época dos acontecimentos ele próprio não conhecia. Julgo que teria sido interessante ter mais personagens que demonstrassem a sua perspectiva.
Notam-se, no entanto, melhorias na caracterização da personagem em relação a outras séries do autor. Este, aliás, costumava ser um ponto fraco de Bernard Cornwell, onde as personagens pareciam seguir demasiado um papel pré-determinado, sem se perceberem as suas motivações ou interesses. Ao criar uma personagem ficcional, o autor liberta-se das amarras históricas e ganha alguma liberdade criativas.
Em termos narrativos, a sucessão de batalhas e conflitos, bem como o temperamento tempestuoso de Uhtred permitem manter uma história ritmada e movimentada, o que facilita a velocidade da leitura. Existem, também, alguns detalhes curiosos ou ligeiramente cómicos, pois, novamente, Uhtred é mais um guerreiro e um líder militar, do que alguém capaz de perceber as subtilezas políticas ou religiosas.
Em suma, esta tem sido uma série que vai mantendo o meu interesse, e que espero continuar a ler nos próximos tempos, intercalando os volumes com obras de outros autores.