Eis o terceiro volume lançado pela Sendai Editora em Portugal! Trata-se de um volume em que o autor conta a sua experiência na prisão, sendo que foi preso por porte de arma. Esta obra resultou também num filme, realizado por Yoichi Sai.
O sistema prisional japonês é, no mínimo peculiar. Pelo menos comparativamente com as prisões retratadas do sistema americano. Primeiro, parece existir uma lista imensa de regras de comportamentos e posturas, que, para além de idiota, parece servir apenas para criar um sistema de pontos que dá acesso a alguns benefícios. Um exemplo é não se poderem fazer palavras cruzadas mesmo que a revista seja pertença de quem as faz.
Outro aspecto a destacar é o detalhe dado à limpeza e organização, que todos os reclusos têm de demonstrar, ao mais ínfimo detalhe. Esta demonstração influencia, também, o tal sistema de pontos. Até na altura da sesta, em que se pode ler, não se pode escrever. Na prática, este sistema parece querer impor um seguimento cego por regras, por mais absurdas que elas sejam.



A prisão é, pois, um lugar de afastamento e paragem. O autor muda de perspectiva, reflecte, limpa a mente e foca-se apenas nos detalhes exaustivos da prisão – os rituais, as quantidades, os limites de cada movimento ou execução. Tudo é regulado ao mais ínfimo detalhe.
Para além de representar o quotidiano dos reclusos, o autor debruça-se também nos detalhes da roupa (e da quantidade que cada um pode ter), dos materiais de cada objecto, do funcionamento do dinheiro (que pode ser ganho na fábrica da prisão) mas, acima de tudo da comida. Aliás, este parece ser o tema principal do livro – existem várias secções de páginas onde o autor descreve as refeições, e a sua variedade, os detalhes e a quantidade.
Na prática, diria até que é um dos aspectos em que a prisão japonesa parece fazer inveja a qualquer mortal que se encontre do lado de fora. Entre a descrição das refeições, sabores e doces, quem está preso parece não ter mais nada para se focar. As comunicações são escassas, as interacções são limitadas, as conversas não parecem ter evolução, tornando-se repetitivas, dia após dia. Só as refeições e as misturas com molhos parecem permitir alguma variação ao quotidiano da prisão.



Destaca-se a comida (bastante), mas também a paz e a forma como, habituados a este quotidiano, os reclusos começam a sentir algum receio pela incerteza da libertação. É que, na prática, a prisão é um ambiente previsível e controlável, onde cada um sabe exactamente o que esperar e o que tem de fazer para ter o melhor ambiente possível.
O resultado é uma leitura pausada, carregada de detalhes, sem objectivo narrativo que não seja a descrição do quotidiano na prisão, até ao mais ínfimo dos detalhes. Não existe um grande foco em sentimentos ou pensamentos (até porque estes parecem ir sendo adormecidos com o decorrer da sentença), mas apenas nas (poucas) interacções e nas regras de funcionamento. Sabemos que existem outros reclusos que, dependendo das sentenças, têm outras regras ou restrições, mas este livro foca-se exclusivamente na visão do próprio autor.


