
Este é um livro curioso. Começa-se pelo título do livro que o é, também, do texto inicial. Contra a Amazon é, afinal, uma composição do autor sobre os malefícios da cadeia americana que teria um objectivo contido de divulgação, mas que, dado o seu sucesso, é publicado num maior número de exemplares – aqui dando início a uma compilação de vários textos sobre livros, livreiros, livrarias, escritores ou bibliotecas.
Este primeiro texto, sendo o mais polémico, foi, também, aquele que mais me despertou a vontade de comentar, tendo-lhe dedicado um comentário mais detalhado. Mas é, no entanto, a meu ver, também o texto menos interessante do conjunto. É que nos restantes falam-se de livros (e o autor revela-se apreciador de banda desenhada, uma boa surpresa), escritores (para além de Borges, de outros com hábitos curiosos), de bibliotecas ficcionais (existentes nalgumas obras clássicas e não só) ou das melhores livrarias ou bibliotecas, sem esquecer do papel dos alfarrabistas.
Temos assim um texto em que se caminha em Londres com Iain Sinclair e se acaba a falar de livros que transformaram a cidade em cenários de fantasia ou de ficção científica, seguido de outro em que se fala dos critérios para considerar uma biblioteca como a mais importante do mundo. Não pode faltar, também, um texto sobre Borges, mas que apresenta uma perspectiva peculiar e diferente do que usual, centrando-se no escritor enquanto homem em transformação. Em as livrarias mitológicas de David B. fala-se de banda desenhada, e em De Little Havana a Miamizuela fala-se da transformação da cidade de Miami, e consequentemente da cultura que aqui cresce.
Mas este livro apresenta, também, entrevistas. Uma a Alberto Manguel, e outra com Luigi Amara. Passa-se por livrarias e bibliotecas de ficção (as que podemos encontrar em obras de ficção), fala-se de alfarrabistas e das novas livrarias que cruzam o conceito de venda de livros com museu ou outras vendas, tanto na Coreia como no Japão. Fala-se de livros que conheço e desconheço, bem como, mais surpreendentemente, de espaços portugueses, intercalados com os de outras localizações.
O resultado é um livro que se lê pausadamente. Cada texto ocupa entre 5 e 20 páginas (mais coisa, menos coisa), pelo que as ideias se vão quebrando de texto para texto. Nem todos os textos possuem o mesmo nível de interesse, claro, mas apresentam referências pouco usuais, cruzando os clássicos com as ocasionais obras de ficção especulativa ou banda desenhada.
Caso estejam interessados em mais detalhes, comentei alguns dos textos em duas outras entradas – As melhores livrarias do Mundo não são as que pensamos / Viagem ao fim da Luz / As Bibliotecas mais importantes do Mundo; Sete Razões / Um Manifesto.