Miguel Jorge é um conhecido autor de banda desenhada que tem publicado várias coisas no nosso mercado – como Apocryphus, uma antologia de histórias em banda desenhada que reúne vários autores e que pretende distribuir os rendimentos entre os criadores. Por sua vez, Nuno Markl é conhecido pela participação em vários programas humorísticos, e terá vários guiões por adaptar e lançar – mas e se, ao invés de criar filmes e séries, estes guiões forem adaptados para banda desenhada? Assim surgiu este Manual de Instruções, uma história criada para a televisão, mas que viu a luz em quadrados desenhados.

A história

Alberto é um homem tipicamente focado no seu trabalho. Tão focado que nem se apercebe da carga doméstica que sobrecarrega a esposa. É preciso pegar os filhos da escola? Alberto esquece-se. Cozinhar? Não sabe. Ouvir ou recordar qualquer conversa? Nem por isso. Mas apesar de todos estes elementos, Alberto ama a esposa, Lara.

Lara está farta. Para além de todo o trabalho, a ausência mental de Alberto de todos os elementos do quotidiano é frustrante. Não falam sobre nada a não ser o trabalho de Alberto, a escrita de manuais de instruções para equipamentos electrónicos. A situação não melhora quando encontra um antigo colega que a vê com outros olhos.

Sai, assim, de casa, deixando Alberto desesperado. A ajuda chegará de uma fonte insuspeita quando o ladrão que lhe assalta a casa a meio da noite resolve ajudá-lo e mostrar o seu manual de instruções para melhorar o casamento.

Crítica

A história inicia-se com uma sucessão de episódios que reflectem a realidade de vários casais. Eles focam-se apenas no trabalho. Elas asseguram o trabalho, a casa e os filhos. A conversa e a empatia são praticamente inexistentes enquanto, na cabeça dos maridos, tudo vai bem e perfeito.

Esta sucessão de episódios iniciais criam facilmente uma relação com o leitor – todos conhecem casais semelhantes ou equivalentes. Todos conhecem uma Lara sobrecarregada. Todos conhecem Albertos bem intencionados e despassarados, sem qualquer pista do que se passa em casa. Criada esta empatia inicial, dá-se o conflito – o episódio de separação, que irá mover a restante narrativa até estar resolvido.

Para além da empatia criada com as personagens Manual de Instruções cativa pela sucessão de situações inusitadas, algumas previsíveis (mas nem por isso menos cómicas) Alberto tem soluções curiosas para os seus problemas, e demora a aperceber-se do interesse que outras mulheres revelam em determinados momentos.

Entre estas situações inusitadas e as soluções de Alberto, a narrativa mantém uma aura de bom humor, usando a desgraça da vida amorosa e os planos mirabolantes para levar a história com piadas ligeiras num bom ritmo. Os desenhos, expressivos, sobretudo nas feições complementam e fortalecem o aspecto cómico e mirabolante.

Conclusão

Manual de instruções é uma leitura ligeira que usa circunstâncias do quotidiano para desenvolver uma narrativa cómica e mirabolante. Dado o conflito inicial, as soluções que se vão desenvolvendo são ligeiramente idiotas, proporcionando o aspecto original, mas também delirante. Os episódios sucedem-se a um bom ritmo, carregando o leitor com facilidade até ao final com agilidade e comicidade.

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