Publicado originalmente em 1965, este famoso conto de Philip K. Dick vê-se agora publicado para português num pequeno volume, numa colecção de pequenos livros com Contos Singulares, pela Relógio d’Água. Não é, claro, o primeiro lançamento em Portugal, tendo existido também uma edição da Editorial Presença com um livro que apresenta apenas este conto. A história dá, também, nome a uma antologia de contos de Philip K. Dick e já originou um filme e uma série.

A premissa da história é simples, mas funcional – na realidade que aqui encontramos alguém arranjou uma forma de calcular as possibilidades de decorrer um assassinato. Este cálculo, automático e duplicado, origina pequenos cartões com o nome do potencial assassino e da sua vítima. E é com base nestes pequenos cartões que se prendem os potenciais criminosos, sem que, no entanto, tenham ainda concretizado qualquer crime.

Anderton, o criador deste inovador sistema, está perto da idade da reforma, tendo sido designado alguém para lhe suceder. O sistema que criou permitiu evitar todos os grandes crimes e há já alguns anos que não ocorrem homicídios. Mas Anderton não tem grande vontade de ser substituído – algo que faz saber. Mas é o próprio sistema que criou que o irá surpreender quando cospe o seu nome como próximo assassino. Crendo-se vítima de uma cabala, Anderton foge.

Ainda que o livro tenha sido escrito em 1965, a ideia e a concretização são aceitáveis aos dias de hoje, sendo um conto limpo de elementos superficiais. Não existe grande caracterização de personagens, nem muita construção de mundo, havendo apenas alguns elementos bem colocados que fazem divergir este mundo do nosso. A apresentação de Anderton é sucinta, e a forma como reage é percebida quando recebe o seu futuro substituto ou nas interacções que tem durante a fuga. Sobre o mundo sabemos que o conceito de pré-crime permitiu reduzir drasticamente a criminalidade.

É, no entanto, um conto que se move na urgência de Anderton de provar a sua inocência – até porque desconhece a vítima; sendo que nesta tentativa, se vai detalhando o sistema usado para perceber o pré-crime – um sistema de revolucionar o nosso estômago – tanto como o The One that Walk Away of Omelas (publicado entretanto em Português), ou The Lottery (com lançamento previsto para português).

O conto joga com o livre arbítrio e o determinismo do fado, com voltas e reviravoltas, contidas mas bem posicionadas. Claro que o sistema e a sua utilização colocam problemas éticos e morais, vertente que é abordada de forma contida pelo autor. É uma boa história, que funciona no seu formato, mas cuja premissa poderia ser usada para criar uma história mais longa e mais forte.