À semelhança do ano passado (em que fiz sugestões para os mais jovens e para os mais experientes) ou noutros anos (2022, 2020, 2019, 2018), apresento algumas leituras mais recentes que se enquadram no espírito do Halloween e que considero aconselháveis.



Começando pelas histórias de apocalipse que são as mais conhecidas, temos as novas edições da Devir da série The Walking Dead, em formato colectânea. Cada volume reúne quatro dos livros anteriores, e é esta a edição que estou agora a ler. A história decorre numa realidade em que começaram a existir mortos-vivos que espalham a sua doença através de mordidelas. Esta epidemia provoca o colapso da sociedade, fazendo com que seja necessário evitar quer humanos, quer mortos-vivos.
No mesmo Universo ficcional de The Walking Dead, Tillie Walden cria uma nova história, centrada na personagem Clementine que dá o nome à série. Pelos comentários que vi, quem leu Clementine conhecendo a personagem original parecem existir alguns pontos de discordância, mas para quem, como eu, li Clementine antes de The Walking Dead, gostei da história e da abordagem pela perspectiva de uma personagem pouco habitual.
Também numa realidade apocalíptica, mas sem mortos-vivos, A Estrada é a adaptação do romance de Cormac McCarthy para o formato da banda desenhada, e uma das leituras mais brutais deste ano. Apesar de conhecer bem a premissa (tinha lido o livro), Manu Larcenet consegue criar um ambiente visualmente aterrador, e, entre silêncios e frases contidas, entregar uma história pesada e assustadora.



Voltando rapidamente aos Zombies, Kyo Kara Zombie apresenta dois volumes divertidos em que uma jovem modelo é convertida em zombie, numa região remota do Japão. Ao invés de nos apresentar criaturas desprovidas de personalidade, o autor opta por criar toda uma comunidade zombie, mostrando-nos a dificuldade em se manterem activos e minimamente apresentáveis, apesar dos desafios da decomposição e do mau cheiro.
Numa onda bastante diferente, Jizo apresenta um rapaz que parece perdido, e que procura a mãe. Quando outro rapaz se oferece para o ajudar, a narrativa começa a apresentar contornos sobrenaturais, com elementos fantásticos japoneses, mas com um desenvolvimento que me pareceu pouco usual para narrativas orientais.
Visualmente fabuloso, La Cuisine des Ogres apresenta uma sucessão de episódios de horror, sob desenhos maravilhosos. A história centra-se num jovem rapaz que, vivendo na rua, vê os seus amigos raptados para se transformarem em comida para Ogre. Ao contrário do esperado a cozinha é requintada, produzindo-se as iguarias mais referenciadas naquele mundo – o problema do leitor é saber a origem da carne apresentada.



Na onda das adaptações para banda desenhada, é impossível não referir A Dama Pé de Cabra por Manuel Morgado. Ainda que a versão de Aquilino Ribeiro não seja a minha favorita, é uma das histórias tradicionais que mais me fascina, talvez por conter vários elementos que se distanciam daquilo que temos visto como tradicional português. O estilo desta adaptação é o conhecido de Manuel Morgado, que se cruza bastante bem com a premissa da história.
O Inferno de Dante foi adaptado pela dupla Paul & Gaetan Brizzi, resultando numa leitura fluída e dinâmica (o que é difícil dado o original). Claro que para tal sacrificam-se muitos momentos do clássico, mas pessoalmente, acho que é um bom compromisso, que possibilita criar um volume de tamanho razoável e leitura agradável, com imagens altamente detalhadas e fascinantes, que capta o fundamental do original.
Sobre Dorian Gray, adaptado por Corominas (e sobre o qual ainda não tive tempo de escrever em detallhe), a adaptação não é tão boa quanto A Estrada ou O Inferno de Dante, mas é, ainda assim, boa, destacando-se pelas fabulosas imagens.
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