E chegou a vez das estantes da sala, aquelas que contêm maioritariamente comics e hardcovers. Na prateleira de cima estão as há muito lidas séries The Preacher e Fables. The Preacher é uma história simultaneamente violenta e cómica em que um padre foi possuído por uma criatura sobrenatural que lhe confere autoridade absoluta às suas palavras. Significa que se disser a alguém para contar os grãos de areia da praia, essa pessoa vai literalmente contar todos os grãozinhos (isto para dar um exemplo suave das possibilidades por detrás de tais comandos). Ah! E já disse que o padre tem muito pouco de Santo?
Já de Fables faz lembrar a série Once Upon a Time, apesar de lhe ser anterior. Aqui as personagens das fábulas viram-se obrigadas a deixar o seu mundo, capturado por forças malignas, e acabaram no nosso mundo, sob forma humana. Os príncipes encantados são afinal homens narcisitas e egoístas que de cavalheiros pouco têm, a Branca de Neve está divorciada e o lobo mau é um detective humano que tenta ganhar a confiança dos outros elementos da sua sociedade. Fábula após fábula, as histórias e as personagens vão mostrando as decepções de vida em que se transformaram os contos, histórias de encantar que não conseguem sobreviver ao quotidiano.
Outra série que me fascinou foi 1602. Pelo menos o primeiro volume. Neste mundo alternativo ao clássico mundo Marvel, os mesmos poderes surgiram alguns séculos antes, durante os descobrimentos. Depois de uma interessante primeira aventura, a mesma premissa é explorada em 1602 – New World e 1602 – Fantastic Four. Enquanto que em New World conhecemos um homem aranha diferente na colónia Virgínia, em Fantastic Four conhecemos o grupo de heróis numa peça de teatro que tentará salvar Shakespeare.
E também nestas estantes que residem alguns dos livros de Neil Gaiman, começando por Mirrormask, um livro representativo do filme de mesmo nome, de história estranha, mas bastante estimulante em termos visuais, relembrando por vezes quadros de Dali, ainda que numa faceta mais negra. Se em Mirrormask a história não é o forte, já o mesmo não se pode dizer de Neverwhere. Tendo conhecido a história primeiro em livro e só depois a representação das personagens na banda desenhada, tenho a dizer que o que tinha imaginado não de adequa muito ao estilo apresentado. Ainda assim, é uma história espectacular, uma transformação da cidade cinzenta e opressiva, que ganha espaço e magia no submundo, uma realidade paralela e invisível à maioria dos citadinos, demasiado presos ao seu dia-a-dia.
Do lado direito encontram-se dois dos livros mais recentes do autor: The Sleeper and the Spindle e Hansel & Gretel. Uma que adorei, outra que nem tanto. Se a primeira transfigura de forma fantástica duas conhecidas fábulas, dando profundidade e novos sentidos à Branca de Neve e à Bela Adormecida, em cenários a três cores (preto, branco e dourado) de tirar o fôlego; já o segundo apresenta-se tão negro quanto a capa contando uma conhecida história sem lhe acrescentar nada de novo, nem às personagens, nem aos acontecimentos.
E porque faleceu recentemente, aproveito também para destacar um conjunto das obras de Terry Pratchett: três bandas desenhadas baseadas nos seus livros (Eric, The Colour of Magic e The Light Fantastic), Homenzinhos Livres (publicado pela Saída de Emergência) e Hogfather. Para quem não conhece este Universo, e para dar uma noção do nonsense que neles habita, basta descrever o mundo em que decorre, um disco suportado por quatro elefantes, por sua vez sustentados por uma tartaruga gigante. Ainda. A morte é uma personificação originada pela crença dos humanos, tal como outras figuras imaginárias como o Pai Natal. Já os académicos são um bando de lunáticos, demasiado centrados nas suas próprias experiências para se preocuparem com o mundo que os rodeia. E isto são apenas alguns detalhes do extenso mundo, carregado de sátiras em relação aos costumes e hábitos humanos.
Gostei da tua estante e tens aí muitos bons livros 😀
Obrigada ! 😀 hei-de mostrar as restantes prateleiras nos próximos tempos
Fixe 😀 😀 😀
Por onde anda esta rubrica das estantes? 😀
Poderá regressar em breve, com a reorganização em curso da biblioteca 🙂