Quinn’s Shanghai Circus de Edward Whittemore encontra-se há alguns anos na minha lista de livros a adquirir. Mas encontra-se esgotado e os poucos volumes disponíveis em segunda mão encontram-se a preços exorbitantes. E porque começo a referir este livro? É que são óbvias as referências de Jeff Vandermeer ao livro do Whittemore e percebi que decerto existirão referências que não apanhei. Restou-me ler o do Vandermeer e continuar à procura do Quinn’s Shanghai Circus.
O ambiente de Veniss Underground recorda-me, não só outras obras do autor, mas também as de Michael Cisco, num estilo que é muitas vezes associado ao New Weird. Realçam-se os elementos fantásticos que, ao contrário do que é tradicional ao fantástico, não se tornam familiares, mas se estranham e entranham de forma pouco reconciliadora, induzindo desconfiança no leitor. Por detrás destes estranhos elementos fantásticos desconfia-se de uma influência maléfica ou, pelo menos, muito pouco empática para com os humanos.
Comparando com outra série fantástica do autor, Ambergris, onde os mesmos elementos estão presentes, nota-se uma escrita menos densa e com menor desenvolvimento das características fantásticas, mas com ambiente mais soturno e carregado de elementos de ficção científica.
Num futuro distante o mundo encontra-se simultaneamente degradado e evoluído. Qualquer um pode desenvolver entidades biológicas geneticamente manipuladas, mas estas capacidades permitem desenvolver, também, o síndrome de Frankenstein, criando-se sucessivas criaturas aberrantes que, por carecerem de coesão, são efémeras agonias.
Quinn será uma excepção. Entidade desconhecida por todos que se faz representar por estranhos avatares ao longo da cidade, será uma espécie de Deus que tudo controla e tudo pode, produzindo desde as mais fantásticas criaturas, às mais funcionais e evoluídas. Quando Nicholas o procura para adquirir uma suricata evoluída com o intuito de, também ele, continuar a desenvolver as suas capacidades de artesão de artes vivas e desaparece sem deixar rasto, a sua irmã gémea inicia uma busca incessante que a leva a diversos níveis da cidade.
De ambiente degradado e corrosivo que todos contamina e envolve, retrata uma boa história de amor desencontrado que percorre pesadelos – seres que oscilam entre o belo paradisíaco e o monstruoso pesadelo, corpos amontoados de corrupção suspensa e mentes insanas de capacidade homicida. É um mundo triste e fascinante retratado por uma prosa peculiar e estranha.