Depois de uma trilogia de ficção científica com componente ecológica, Jeff Vandermeer mantém a temática ecológica e aposta numa ficção científica futurista e apocalíptica. Neste caso a catástrofe que elimina a sociedade humana não é o aquecimento global ou a elevação do nível das águas (como estamos habituados nos apocalipses ecológicos) mas a criação de monstros recorrendo à biotecnologia.

Rachel encontrou com Wick um refúgio na cidade destroçada pela Companhia, uma empresa de biotecnologia que foi libertando monstros cada vez mais poderosos, até criar Mord, uma enorme entidade inteligente que, com os seus proxies (ursos) domina a cidade. Construído pela Companhia mas capaz de crescer e de se desenvolver, chega a ser idolotrado por alguns dos seus criadores que assim julgam poder manter-se a salvo.

O quotidiano de Rachel altera-se no dia em que descobre um ser abandonado, um ser que se alimenta de luz solar e que sofre pequenas alterações de consoante o local em que se encontra. Num dia em que é atacada, em casa, Rachel é salva por este pequeno ser que desenvolve vários pares de olhos, tentáculos e, mais tarde, capacidade de falar. Borne, como Rachel o designa, revela-se um ser curioso como uma criança, crescendo na mesma velocidade com que absorve pequenos seres.

Rachel tem, com Borne, uma relação maternal e protectora, fazendo frente, até, às suspeitas de Wick que preferia abandonar o pequeno ser à sua sorte, ou desfazê-lo enquanto o estuda para captar partes para as suas próprias criações. Com o aparecimento de Borne o relacionamento entre Wick e Rachel torna-se ainda mais agridoce, carregado de pequenas discussões e desconfianças, fazendo com que Rachel opte por afastar Borne das vistas de Wick.

Na cidade outra força se levanta, aumentando poder e conquistando lentamente território. Sente-se a tensão de um combate eminente e a diminuição das formas de vida na cidade que não estejam sob um dos domínios. Entre ambos, Rachel e Wick tentam sobreviver, mantendo-se em território conhecido, mas diminuindo as provisões que conseguem recolher diariamente.

O ambiente é inóspito e estranho, repleto de formas de vida hóstis ou simplesmente de aparência desconhecida e por isso ameaçadora. A tensão acumula-se ao longo das páginas e com ela os relacionamentos ficam cada vez mais instáveis, enquanto a humanidade desaparece como a conhecemos e se transforma.

Demasiado longo nalguns detalhes, Borne consegue-nos cativar e sentir empatia por esta criatura estranha e muito pouco humana mas que, como uma criança, quer aprender e corresponder às expectativas da pessoa que a acolheu, afastando-se temporariamente da sua verdadeira natureza. Carregado de elementos estranhos, recorda alguns trabalhos de Jeff Vandermeer dentro do género New Weird, mas contém uma estrutura mais coesa e um maior foco ecológico.

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