img_0050

Este Democracia foi lançado este ano durante a Amadora BD numa sessão que contou com dois dos autores, Alecos Papadatos e Abraham Kawa, bem como de Francisco Louçã, Pedro Moura e Pedro Vieira. Nesta sessão falou-se não só das ideias por detrás da história presente em Democracia, bem como do processo criativo e colaborativo dos vários autores.

Foi uma excelente sessão de lançamento, não só por apresentar o livro, mas pelo enquadramento crítico com a transposição da história para a actualidade, colocando-se questões bastante críticas tanto do ponto de vista literária como político.

img_9022

Colorido e movimentado, Democracia apresenta a cidade grega de Atenas como palco para uma rotação de poder corrupta que sustenta uma força mercenária como forma de manter a superioridade militar. Mas enquanto a memória da maioria é curta e manobrável em discursos de retórica, outros não se deixam enganar e vislumbram o que de errado está a ocorrer naquela cidade.

img_0068

Leandro, filho de um mercador, está mais interessado em desenhar e pintar do que seguir os passos do pai,  mas claro que, enquanto jovem, não tem grande poder de decisão para o seu futuro. Com o objectivo de o iniciar nas vertentes de maior responsabilidade do negócio, o pai envia-o numa pequena viagem a negócios – um momento marcante na vida do jovem, não só pela bela rapariga que conhece, Hero, que está prometida ao templo de Delfos, como pelo atribulado retorno em que assiste à morte do pai numa ardilosa chacina de civis.

img_0056

Procurando uma forma de se vingar, Leandro viaja para Delfos para ver o oráculo mas cedo percebe que os Deuses só falam para os mais ricos, seleccionados pelos sacerdotes do templo, e que as profecias que dali saem são politicamente suspeitas. As suas ideias vão sendo fortalecidas pelos episódios a que assiste e pelos encontros clandestinos com Hero.

img_0062

Ainda que não esqueça os acontecimentos que marcaram o início da idade adulta, Leandro vai perdendo o foco na vingança violenta e é orientado por sonhos que lhe indicam que deverá usar as suas próprias capacidades artísticas para moldar mentalidades em pequenos episódios representativos que molda nas suas peças. Retornando a Atenas o seu novo negócio levam-no a uma falsa época de glória, em que se rodeia de interesseiros e se afasta dos verdadeiros amigos.

img_0077

Utilizando uma personagem fictícia bem colocada, num lugar banal que lhe confere uma perspectiva interessante mais próxima do leitor, Democracia baseia-se em vários relatos históricos da época para apresentar uma única versão onde, à semelhança de Leandro, se vai perdendo a visão inocente do poder religioso e político.

Ainda que teoricamente estes estivessem separados, o poder religioso cedia a interesses externos conforme a sua própria conveniência, como forma de controlar populações e de obter, para si mesmo, novas riquezas e influências.

img_0073

Por sua vez, o poder político está carregado de corrupção e falácias criminosas que têm como único objectivo a manutenção do seu papel superior, ludibriando o povo e influenciando os seus votos através da ganância e de um jogo de poder sem fim.

Qualquer semelhança com os sistemas actuais não é pura coincidência e em Democracia usa-se uma época distante e um cenário desconhecido para expor uma caricatura da sociedade e, simultaneamente, expor um desfecho esperançado que nos pode levar a várias questões, mas que, na prática, se podem resumir a “Quantas verdadeiras democracias conhecemos?”.

Democracia foi lançado em Portugal pela Bertrand Editora.