A maioria da ficção científica que apresenta o encontro da espécie humana com uma espécie inteligente alienígena parte de uma perspectiva antropocêntrica, ou seja, de que seríamos o motivo do encontro e de que se iniciaria algum tipo de conversação, ou de interação directa.
Ainda que esta premissa tenha dado origem a fabulosas histórias, parece-me bastante limitadora. Nada nos diz que, a existir uma espécie alienígena, fossemos capazes de a percepcionar correctamente, ou o inverso. Ou de sermos mutuamente reconhecidos como inteligentes, ou, até, como estando vivos.
É exactamente aqui que Trees se destaca:
Ten years after they landed. All over the world as if there were no-one here. And they did nothing and did not speak as if there were no-one here and nothing under foot. Ten years since we learned that there is intelligent life in the universe but that they did not recognise us as intelligent or alive.
Um dia, enormes estruturas cilíndricas aterraram em vários pontos do globo terrestre. Sem aparente preferência por locais habitados, ainda que algumas tenham aterrado no meio de cidades, esmagando tudo o que se encontrava à superfície, estas árvores, como vão ser denominadas, permaneceram, a partir daí, estáticas, sem dar qualquer sinal para se darem a conhecer ou para conhecerem a espécie humana.
Em seu redor as comunidades mudaram – quem tinha dinheiro para fugir do local, fugiu, quem não tinha teve de aprender a sobreviver nestas zonas onde se sente, continuamente, o peso da presença psicologicamente esmagadora das enormes estruturas alienígenas.
Ainda que estejam quase inertes e pouco interfiram fisicamente com o que as rodeia, a sua permanência cria um elevado stress, seja pela incerteza da sua presença, seja porque os seres humanos, sob o medo do desconhecido, optam por acções estúpidas, pouco produtivas, mas sobretudo agressivas e destruidoras.
De em árvore em árvore, vamos conhecendo as comunidades que se formaram em torno, com especial ênfase para a árvore da Noruega, perto da qual se encontra um grupo de investigadores científicos. É exactamente nesta árvore que os cientistas presenciam um fenómeno estranho, com o crescimento de umas flores negras que causam interferências em todos os aparelhos eléctricos.
Apesar de apresentar uma narrativa dividida em várias personagens e pontos de vista, Trees consegue, em cada uma, criar empatia para com as personagens, mesmo quando estas enveredam por caminhos menos correctos para poderem sobreviver. Em cada história percepcionamos a forte influência das árvores e como a sua presença mudou a vida das populações que habitam em seu redor.
Apresentando um nível de detalhe excepcional nas imagens, bem como uma composição cuidada que produz páginas de visual esmagador, Trees destaca-se pela abordagem pouco comum para com uma presença alienígena, centrando-se nas consequências a nível individual e social, criando criar empatia e envolvência.
Sem dúvida uma das minhas séries favoritas de banda desenhada de ficção científica deste ano.