Confesso que Alice Vieira não era das minhas autoras favoritas mas eis um livro que sempre me intrigou e sobre o qual ouvi falar maravilhas. Comparado à série juvenil Viagens no Tempo de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada (que muito apreciava), A espada do rei Afonso apresenta três irmãos que, sem saberem bem como, vão parar à cidade de Lisboa recém conquistada pelo, ainda não rei, Afonso.
Os seus modos, vestimentas e forma de falar rapidamente os denunciam como sendo estrangeiros, mas, depois de se certificar que não se tratam de espiões, o bobo da corte leva-os a assistir ao discurso do Rei. Tratando-se de crianças são acolhidos por um dos nobres mais importantes e tornam-se amigos da rapariga de que ele toma conta.
A história é inverosímil. Para além da viagem de teor fantástico, a aparente familiaridade com que se dirigem a todos e têm acesso a personalidades importantes como o futuro Rei D. Afonso Henriques torna a história pouco credível – algo que como adulta percebo – mas ainda assim com alguma piada pelo espírito pouco submisso dos três irmãos que apresentam características bastante diferentes e se dirigem a todos com aquele tom castiço de quem pouco teme.
O ponto alto estará na forma como estas personalidades pouco domáveis se envolvem com os restantes, que é aproveitada para entrelaçar factos importantes da História de Portugal, tornando-se assim numa forma fácil de fazer com que os leitores percepcionem alguns dos acontecimentos que levaram à fundação de Portugal – o aval do Papa que tarda em chegar para reconhecer D. Afonso Henriques como rei, os mouros que se vêm combatidos sem dó nem piedade usando-se como desculpa a diferente religião, ou as batalhas mais decisivas e os elementos que contribuíram para o seu desfecho.
Com vocabulário fácil e narrativa de leitura escorregadia, A Espada do Rei Afonso é uma narrativa divertida que sabe desenvolver uma boa dinâmica entre as personagens principais e utilizá-la para explorar factos históricos.
A Espada do Rei Afonso foi publicado pela Caminho.
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