A trilogia Mundos Paralelos de Philip Pullman é uma fantasia deliciosa, voltada para um público mais juvenil, mas que consegue não ser condescendente com os leitores. As personagens, apesar de jovens, são colocadas em situações difíceis e exploram a complexidade das acções, das emoções e das decisões. Sendo essencialmente uma série de fantasia possui alguns detalhes científicos interessantes, como a existência de mundos paralelos e uma oposição entre a Igreja e o método científico.
Uma particularidade interessante deste mundo é que todas as pessoas são acompanhadas por um génio, um ser com forma animal que se encontra sempre presente, desde o momento em que nasce. Se, enquanto a pessoa é criança o génio pode assumir a forma de vários animais, consoante o estado de espírito da pessoa, na idade adulta estabiliza. Ainda que estes génios sejam autónomos a separação de que fazem parte é dolorosa e constitui uma ofensa tocar no génio de outra pessoa.
Neste mundo a Igreja impera, uma igreja com longos tentáculos em todos os aspectos da vida pública e privada, uma Igreja que castra os académicos e se alastra pelas escolas, induzindo crianças a comportarem-se como espiões em casa e com os colegas. É aqui que conhecemos Malcolm, o filho de um taberneiro que de vez em quando ajuda os pais e que, curioso, aprende a captar conversas como ninguém.
Mas Malcolm não ajuda só os pais, também ajuda de vez em quando as freiras e é aqui que conhece Lyra, uma bebé que é trazida para o mosteiro, a fim de crescer protegida dos múltiplos interesses que a rodeiam – é que o pai será um nobre caído em desgraça política e a mãe uma mulher que não terá capacidade para cuidar da criança. A par com o interesse político, surge uma profecia em que a Lyra poderá ser importante.
O bom ambiente começa a mudar quando alguns homens associados à Igreja começam a rondar o mosteiro e a taberna, sendo que Malcolm se apercebe do diferente comportamento que os adultos mostram na presença daqueles homens. Simultaneamente, uma mulher dá uma palestra nas aulas convencendo as crianças a ingressarem numa ordem religiosa que terá como objectivo vigiar tudo o que é feito e dito, e um homem académico, envolvido numa organização secreta, aparece morto no rio.
Um dos aspectos positivos, tanto da trilogia Mundos Paralelos (His Dark Materials) como de O livro do pó, é o de colocar as crianças em aventuras verosímeis para aquele Universo onde se apresentam situações verdadeiramente perigosas – situações que também podem acontecer no nosso mundo. Assim, encontramos adultos que mentem às crianças com segundas intenções – como pedófilos violentos que conseguem ser extremamente simpáticos quando assim o pretendem, ou como políticos com segundos interesses que vêm nas crianças fontes de informação.
Apesar de ter gostado bastante de regressar ao mesmo mundo que a trilogia Mundos Paralelos achei que a acção deste livro se centrava demasiado na canoa e que apresentava alguns momentos desnecessários, entrando nalguma repetição de situações que se torna desnecessária e cansativa. Tirando este aspecto o mundo tem aspectos bastante interessantes e este livro apresenta algumas das personagens da trilogia sob uma outra luz, constituindo um complemente interessante!
O livro do pó foi publicado em Portugal pela Editorial Presença, e a trilogia Mundos Paralelos encontra-se em processo de nova adaptação (esperemos que desta vez corra melhor que a série merece).
Outros livros do autor