No segundo volume de Bug, de Enki Bilal, retorna-se à realidade futurista em que todas as bases de dados informáticas perderam, de repente, a informação que possuíam. O pânico rapidamente se instala. Sem a informação de que necessita a tecnologia, quase nada funciona – nem os mecanismos médicos que são usados para prolongar a vida humana.

Em contrapartida, no espaço, um dos homens sobrevive a uma mancha azul que o contamina – mas também lhe fornece todos os dados perdidos na Terra. Ao contrário do que seria de supor, esta quantidade de informação acaba por lhe trazer mais problemas do que vantagens, vendo-se perseguido e ameaçado ao longo de toda a narrativa, por todo o tipo de empreendimentos – públicos e privados. Enquanto tenta salvar a sua filha, vê-se sucessivamente barrado por máfias, ricaços ou grandes empresas.

De história futurista e apocalíptica, Bug pode ser lido como uma crítica à dependência humana da tecnologia, dependência essa que pode fazer colapsar rapidamente uma civilização se for retirada repentinamente. Nesse sentido, existem várias referências à tecnologia da nossa actualidade, bem como às décadas do século XXI – uma espécie de nostalgia àquilo que existe hoje, sendo que a realidade retratada pouco parece ter avançado.

Aliás, este é um dos aspectos mais interessantes deste futuro, em que a tecnologia parece uma versão pouco alterada do que conhecemos (salvo algumas excepções), existindo várias referências a equipamentos do presente. Destacam-se, por exemplo, os carros da nossa actualidade, alguns dos quais que são dos poucos que ainda operam – mas poucos os sabem conduzir.

Em termos visuais, Bug é mais detalhado que outras obras do autor como Animal’Z, mas menos forte que livros como A Feira dos Imortais. O mundo retratado é sombrio, com alguns detalhes distópicos na forma como o Estado aborda o problema em mãos. Destacam-se as notícias que intercalam a narrativa que vão mostrando a dependência dos humanos em relação às máquinas, sendo, neste caso, uma dependência gramatical.

Já a narrativa, é bastante movimentada, carregada de personagens fortes mas de acções misteriosas, elemento característico nalgumas narrativas de Billal, em que vamos assistindo ao desenrolar da história sem perceber, na totalidade, cada pessoa – elemento que, simultaneamente, nos distancia da personagem, mas, também, nos impõe algum mistério, tal como na vida real.

A história vai alternando entre visões diferentes dos factos, mas foca, sobretudo, o homem que, numa missão a Marte, foi contaminado e passou a conhecer todos os dados perdidos na Terra. As alturas em que se focam outros elementos permitem ter a visão do impacto da perda de tecnologia e fornecer pequenos detalhes da sociedade que Bilal construiu.

O resultado é uma leitura movimentada mas não demasiado linear, que dá espaço para interpretação e para os elementos críticos (quase cómicos) da dependência humana na tecnologia.

Bug foi publicado em Portugal pela Arte de Autor.