
Fui informada da existência deste livro quando vi o destaque pela nomeação ao prémio Eisner, sendo que o desenhador, Filipe Andrade é português. Claro que, com este enquadramento, tinha de o ler!
A história
A Morte vai ser despedida. Sabe-se que um determinado humano irá encontrar uma “cura” para a morte pelo que o seu trabalho passa a ser inútil. Sem outro propósito e destinada a ter uma vida mortal, a Morte desespera, entre o desejo de vingança para com este humano e a curiosidade por tal indefeso ser.



Crítica
Nalguns pontos esta história recorda-me Sandman de Neil Gaiman. A mais óbvia será a personificação da Morte numa jovem mulher problemática. Ainda que visualmente bastante diferentes, este terá sido um dos pontos de associação mais óbvios. Outro ponto é a aparente imaterialidade, uma leveza narrativa que apresenta episódios sem uma cadência fixa dispersos na vida das personagens. Claro que em confronto com uma entidade como a Morte, surge, tal como em Sandman, a fragilidade da vida humana perante a velocidade do Universo.
Ultrapassando estes elementos, as questões colocadas na narrativa de The Many Deaths of Laila Starr são muito diferentes das colocadas em Sandman. Questiona-se a morte e o papel da morte, e apresenta-se a percepção deste evento de formas diferentes consoante as diferentes fases da vida de um rapaz que se torna homem.
A história é contada sobretudo na perspectiva de Laila que se vai encontrando com o homem que há-de descobrir o fim para a morte. Os encontros são pontuais, mas sempre em alturas marcantes para o homem que chega a tornar-se obcecado pela existência de Laila – o nome da Morte sob a forma humana.
Ambos, humano e morte sob a forma de Laila, evoluem de forma contrastante. O humano, revoltado com a morte, vê em Laila a aparição em momentos de morte (mesmo sem saber o seu anterior papel) e luta por evitar o fim daqueles que ama. Por sua vez, Laila, vai ganhando novas sensibilidades e aproximando-se da humanidade. O percurso das duas personagens vai permitindo momentos mais introspectivos ao longo da história.
Não é uma história muito movimentada. A narrativa vai seguindo as duas personagens e apresentando os momentos chave, sobretudo da vida do homem. Existe lugar para o questionamento sobre a morte em vários destes momentos – questionamento e raiva. The Many Deaths of Laila Starr é, portanto, mais pausado e filosófico, não pretendendo responder a estas questões mas atingir um momento de aceitação do que é a vida.
Em termos visuais é um livro que se distingue pelas cores fortes e contrastantes, alusivas ao ambiente cultural em que decorre a história. Existe um grande foco visual nas feições das personagens, principalmente enquanto decorrem as conversas mais marcantes, demarcando os sentimentos que vão surgindo. Destaca-se também bastante, o posicionamento das mãos, um foco com elevada recorrência.



Conclusão
Nomeado para um Eisner Award, The Many Deaths of Laila Starr é uma leitura pausada e introspectiva, de detalhes fantásticos (ou sobrenaturais) e de visual fascinante, tanto pelo colorido como pelas perspectivas apresentadas. Não gostei ao ponto de a tornar na melhor leitura deste ano, mas é uma excelente leitura.


