Eis mais um livro desta autora! Neste caso, trata-se de um livro para um público mais juvenil, que venceu o prémio Locus para literatura YA. O título inspira curiosidade, mas também recorda o humor peculiar que costuma estar presente nas histórias da autora.
A história
A realidade aqui descrita é semi medieval, com a clara separação em realeza e povo. Diferencia-se pela existência de pessoas que manipulam a magia, ainda que se trate de uma forma de magia muito peculiar. É que aqueles que conseguem manipular a magia só o conseguem fazer em relação a algo específico.
No caso da personagem principal, Mona, uma rapariga de 14 anos, o seu poder está associado a massa levedada ou massa cozinhada, conseguindo fazer dançar os bonecos de gengibre! Mas claro que retira qualquer magia antes de os vender – ninguém gosta de trincar criaturas que se movem.
O seu quotidiano é quebrado quando encontra, numa madrugada, um corpo na padaria! Desconhecendo de quem se pode tratar, chamam-se as autoridades para lidar com o assunto. Mas Mona é surpreendida pela decisão do Inquisidor Mor que decide que será ela a culpada, já que tem capacidades mágicas.
A narrativa
A história tem um tom mais juvenil do que as que li anteriormente da autora. Centra-se numa personagem adolescente com capacidades mágicas, que se torna amiga de outro adolescente, mais novo do que ela, com o qual vive as aventuras descritas no livro. As suas conversas são, dessa forma, mais directas.
O número de personagens é relativamente reduzido, apresentando várias secundárias. Ainda assim, é possível, apesar de curtos episódios, perceber os diferentes estilos de cada uma, realçando-se dessa forma, a capacidade de caracterizar personagens da autora, com o famoso “show, don’t tell”.
Apesar do reduzido número de personagens, existem personagens masculinas e femininas relevantes. Este detalhe está a tornar-se, também, uma marca de Kingfisher. A personagem principal é feminina e existem outras personagens de destaque, também elas femininas – personagens que têm posições de poder, e personagens que, sendo esquecidas pela população acabarão por fazer a diferença e transformar-se em heroínas, apesar de possuírem idade e género pouco associados a feitos heróicos. Mas também existem persoangens masculinas com igual relevância e importância.
Para além deste balancear de géneros, fala-se tangencialmente da visibilidade (ou falta dela) de mulheres mais velhas, bem como das personalidades que, tendo poder político, nem sempre têm capacidade ou visão para fazer o que é necessário.
Neste seguimento, a história também é relativamente simples. Existem uma ou duas reviravoltas, mas sem grande complexidade. Claro que, sendo um livro direccionado para um público mais juvenil, a jovem Mona acabará por ser a heroína da cidade. Este detalhe é devidamente justificado pela narrativa, e enquadrado nas circunstâncias em que ocorrem os assassinatos anteriores. Apesar de simples, é uma narrativa coesa e lógica.
A história é movimentada, carregada de elementos de acção, mas também bem disposta. Mona e as restantes personagens vivem um período movimentado provocado pela perseguição das pessoas com capacidades mágicas. Como tal, vive-se um clima de medo e tensão. Mas tal como noutros livros da autora, existem pequenas conversas, ou tiradas, ligeiramente cómicas ou pelo menos realçando o absurdo de determinada situação, que conferem um escape à tensão crescente.
Sendo um livro que se enquadra no género fantástica, tem, como já indiquei anteriormente, o uso de magia. Esta magia tem um sistema próprio, relativamente simples e directo, dando possibilidade à existência de poderes curiosos que a autora explora q.b..
Existem elementos originais, com um ligeiro toque de horror (como já costuma ser normal em Kingfisher). Para além das tentativas sucessivas de assassinato, alguns dos poderes envovem esqueletos. Dado tratar-se de um livro YA, estes elementos são explorados quase tangencialmente.
Conclusão
Tal como outros livros da autora, este é um livro que satisfaz. Não é extraordinário, mas a história é movimentada, com momentos bem balanceados de tensão e de libertação cómica. Nota-se que esta história é destinada a um público mais jovem do que os restantes livros, mas não condescendente e, como tal, não descura a necessidade de coerência lógica da narrativa.
Globalmente é uma leitura recomendada, se não esperarem um clássico, mas uma leitura bem disposta, com detalhes originais, e cativante o suficiente para o ter lido de rajada.