Como tinha referido recentemente, durante o Verão, li de seguida três livros de Jeff Lemire. Um a solo, Mazebook, um segundo que retorna ao género Space Opera, Senciente, e este Primordial em que Jeff Lemire volta a colaborar com Andrea Sorrentino.



A história
Durante os anos 50, tanto os EUA como a Rússia, lançaram animais para a órbita terrestre. Nenhum deles regressou. Em Primordal Jeff Lemire usa estes factos para introduzir variações ficcionais – os animais não faleceram, mas terão sido levados. Em ambos os países existem altas patentes que sabem que algo de estranho se passou, mas em ambos tentam esconder e apagar todos os registos. Quando, um cientista americano, ao esvaziar as instalações, descobre algumas informações suspeitas, acaba por se envolver numa trama perigosa.



Crítica
A premissa é simples, e usa factos para desenvolver uma teoria da conspiração envolvendo ambas as nações. Neste caso, usa um cientista que, claro, irá tentar descobrir mais detalhes. Esta motivação permite, em combinação com os esforços de ambos os países para conter informação, permite criar uma história misteriosa e movimentada, um género de Código da Vinci que, ao invés de usar informação religiosa, usa as missões ao espaço.
O desenvolvimento desta premissa é, no entanto, estranho. Jeff Lemire não é explícito quanto às motivações de quem levou os animais, deixando no entanto, algumas pistas interessantes. O final, esse, também é aberto, deixando-nos em suspenso relativamente à progressão da premissa. Este detalhe pode funcionar bem alguns leitores (nem todas as histórias precisam que se feche a porta à imaginação) mas decerto não funcionará bem com todos.
A progressão da história é, também ela, saltitante, contendo alguns momentos de deambulação que recordam os desenhos derivados do uso de drogas. Aliás, neste ponto, recordou-me bastante Gideon Falls. Se, nessa série de horror, estes episódios são proporcionados pela loucura ou pelos elementos negros, aqui estes episódios são derivados de tecnologia alienígena e da sua visão através dos animais raptados.
A história é, portanto, uma combinação curiosa de vários estilos e géneros. Por um lado, temos factos históricos que se alteram, num misto entre história alternativa e thriller, por outro, encontramos elementos de ficção científica. Nenhum género parece sobrepor-se aos restantes, fazendo com que Primordial seja uma combinação de experimentalismo, com introspecção e ficção.



Conclusão
Dada a recente leitura de outros livros de Jeff Lemire, é-me impossível as comparações. Enquanto narrativa, preferi, claro, Senciente. Trata-se de uma história fechada e contida, que cruza ficção científica e horror, entregando elementos comuns ao género numa abordagem suficientemente inovadora e movimentada para cativar. Mas Primordial traz algo de diferente. É, repito, algo que não vai agradar a vários tipos de leitores. Confesso que, à primeira leitura, não me despertou um sentimento de leitura agradável. Mas é, sem dúvida, uma daquelas leituras que, recordando, me tirou da zona de conforto entregando uma combinação curiosa e estimulante.
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