brave new worlds

Imaginem uma sociedade tão violenta que a melhor solução é o extermínio. Mas não de todos os cidadãos – apenas dos portadores do cromossoma Y, os homens, que se terão tornado demasiado imprevisíveis, reunindo-se em gangues que destroem cidades em ondas de violência aterradoras. A alternativa é a eliminação dos homens, em acções não menos violentas e aterradoras.

Richard é gay, tal como todos os membros do pequeno grupo, enclausurado num campo de trabalhos forçados, onde se processam os milhares de corpos masculinos. Vigiados por câmaras anónimas, apenas saem do campo para transportar mais cadáveres. É assim que Richard conhece Royce e o consegue recrutar para o grupo, como forma de o salvar – não antevendo que este novo membro irá revolucionar a hierarquia do grupo e o relacionamento com quem os vigia.

Geoff Ryman já esteve em Portugal por duas ocasiões diferentes – apenas tive possibilidade de o ver na segunda, no Colóquio Mensageiros das Estrelas, onde fiquei com a sensação de se tratar de uma pessoa bastante sensível e inteligente, características que transpareceram para The Child Garden ou Air.

Mas em O Happy Day! esqueçam qualquer noção de sensibilidade. Ela existe, mas numa única personagem. Tudo o resto é antítese desta personagem – um cenário cruel, violento e pungente, que nos atira contra a parede em vários momentos, tanto pelas acções descritas, como pelos acontecimentos e cenários. Se o objectivo é prevenir a violência, a forma de o fazer acarreta acções ainda mais extremas e desconcertantes.

Um conto brutal que dificilmente irá deixar alguém indiferente, e que é, sem dúvida, um dos melhores do conjunto. Para além de transmitir a claustrofobia própria de sociedades distópicas, arrepia pelo conceito de extermínio indescriminado, pela vigilância extrema que diminui o sentimento de individualidade e pela capacidade de agir irracionalmente em grupo.