A Balada do Mar Salgado começa com um misterioso episódio – Corto Maltese surge atado a uma jangada à deriva. Este surgir levou vários fãs a questionarem-se sobre os acontecimentos por detrás deste episódio. Já com este final definido, a dupla Canales e Pellejero gera este Dia de Tarowean, mostrando como Corto Maltese foi atado a uma jangada e atirado ao mar.

Talvez por ter este estranho ponto de partida (ou ponto de final), denota-se algum esforço em conter detalhes que introduzam A Balada do Mar Salgado. Assim, vão-se apresentando algumas personagens e explora-se a estranha personalidade do Monge que parece influenciar, se não comandar, uma ilha.

Rasputine tem, neste álbum, a sua usual aparição – caótica, de rumo próprio, intenções egoístas, e em eterna picardia com Corto Maltese. Fala-se de amizade, mas a confiança mútua não parece ser muita. Até porque Rasputine é daqueles que encontra sempre uma forma de tentar lucrar em todas as interacções – e neste volume não será diferente.

Em Dia de Tarowean assistimos, também, ao desenvolver de um amor trágico, entre um príncipe perdido e uma orfã sereia que se irão entender desde o primeiro momento, tornando-se inseparáveis. Mas a sua existência não será bem recebida por todos, e o amor de ambos torna-se na linha narrativa mais trágica deste volume.

Por sua vez, o Monge é uma personagem peculiar, envolta em mistério, que pertence a um grupo de outros monges! Trata-se de uma congregação de poder e manipulação que se reúne periodicamente, mas nem este conjunto se revela totalmente de acordo com as acções de todos os seus membros!

Um pouco diferente dos volumes criados por Hugo Pratt, este volume é algo episódico, mostrando uma série de elementos associados ao volume que pretende anteceder, introduzindo personagens e contextualizando alguns acontecimentos. Por esse motivo, vai fazer-me reler A Balada do Mar Salgado para perceber como funciona a leitura sucessiva de ambos.

Em termos narrativos tem boas linhas de desenvolvimento de algumas personagens, ainda que nem sempre Corto Maltese pareça uma personagem no centro dos acontecimentos. Em termos visuais aproxima-se ao estilo de Pratt (com denotando-se um estilo próprio). A combinação das duas componentes resulta numa leitura diferente do tradicional Corto Maltese mas bastante agradável.

Dia de Tarowean foi publicado em Portugal pela Arte de Autor.