
Li, há um ano, o primeiro livro desta autora, Grass. Nesse livro a autora contava a história de mulheres que foram obrigadas a prostituirem-se para os exércitos japoneses, representando as mazelas psicológicas e físicas (e não reconhecidas) de uma grande parte da população feminina coreana. Neste caso, a autora leva-nos a explorar a divisão da Coreia em duas nações, com as consequências para as pessoas que viveram nessa época.



A história
A autora tece uma história ficcional de raízes verídicas, onde apresenta uma mulher que, por azar do acaso, se viu separada do marido e do filho quando tentava fugir da guerra. Com ela levava a outra filha, com a qual conseguiu sobreviver. Apesar de se ter casado novamente, esta mulher não esqueceu o marido e o filho que perdeu, sobretudo porque não tem nenhum tipo de notícia da sua sobrevivência ou existência.
Para além da história desta mulher, a autora vai explorando outras histórias semelhantes, de pessoas que se viram separados de pais e irmãos e cuja existência questionam – uma separação progressivamente mais esquecida, com o passar das gerações.



Crítica
A história da fuga e da separação de famílias não é contada directamente, mas intercalada com momentos mais actuais onde se mostra a fragilidade da mulher idosa. A narrativa é contada na perspectiva da suposta filha que lhe dá algum suporte e que vai mostrando as condições de vida actuais.
O relacionamento entre ambas vai sendo detalhada, e a história vai sendo contada, mostrando como a mulher se casou e se separou de parte da sua família. Aqui destaca-se, sobretudo, o facto de decorrerem tantas décadas desde a divisão da Coreia que se torna um evento distante e insignificante para as gerações mais novas. Apenas os idosos se recordam da família que deixaram.
Tal como Grass, esta é uma história pesada (ainda que menos dura) que relata os sofrimentos directos e indirectos das guerras e mostrando as consequências para as populações da Coreia. A forma pausada e intercalada como a história é contada permite ir ganhando empatia para com as personagens e, simultaneamente, ir percebendo as mazelas psicológicas dos acontecimentos. É uma narrativa cuidada e cuidadosa na forma como apresenta as personagens (apesar de ficcionais) mostrando respeito pela dor dos que passaram por aquelas situações.



Conclusão
Tal como Grass, The Waiting é uma leitura estrondosa e empática que nos leva pela realidade de um povo muito diferente da vivência ocidental. Neste caso, as populações foram duramente afectadas pela guerra e The Waiting foca-se, sobretudo, na divisão da Coreia, tendo a autora explorado o tema de forma respeitosa. É uma excelente leitura – mas não para todos os estômagos.


