E eis as minhas restantes escolhas no Painel As Escolhas do Ano, apresentado durante o Fórum Fantástico de 2024, pelo Rogério Ribeiro, Bruno Campos, Artur Coelho e eu.

The Sacrificers é uma das novas séries de Rick Remender. Ainda que não goste de tudo o que o autor publica, este primeiro volume apresenta um história excepcional que pega no conceito de The one that walk away from Omelas da Ursula le Guin. A narrativa oscila entre duas perspectivas principais, a dos vulgares mortais que sacrificam os filhos para os deuses para poderem ter estabilidade, e os deuses que possuem um negro segredo associado à sua imortalidade. Um dos pontos de maior destaque desta série será o desenho, excepcional.

Também excepcional e decerto integrando a lista de melhores leituras do ano, temos A Estrada de Manu Larcenet. Num estilo visual que recorda outro livro brutal do autor, O Relatório de Brodeck, A Estrada é a adaptação do romance de ficção distópica de Cormac McCarthy. Apesar de ter lido o original há uns anos e de conhecer bastante bem a premissa, a adaptação consegue dar-nos um brutal soco no estômago. Não é uma leitura que possa ser feita de uma só vez, contrastando a desumanidade de um mundo apocalíptico com a voz inocente de uma criança. E pior do que a leitura directa, são as leituras indirectas que podem surgir se colocarmos as perguntas certas.

A minha última recomendação neste painel é o livro de não ficção Muitos Anos a Virar Páginas, em que Hugo Pinto reúne várias entrevistas feitas a editores de banda desenhada em Portugal. Tal como os estilos dos editores vão variando, também a perspectiva que apresentam vai sendo muito diferente, havendo todo o tipo de abordagem em relação à publicação.

Existam, no entanto, algumas escolhas dos meus colegas de painel que gostaria de comentar sucintamente. In Ascension é daqueles livros que, ainda que não o coloque na lista de melhores leituras, considero que seja efectivamente um livro brutal. Acabei-o sem conseguir dizer adorei, mas a verdade é que as sensações que proporcionou me ficaram na memória. A premissa é inovadora e interessante, ainda que a execução provoque um pouco a sensação que temos quando visualizamos filmes do Norte da Europa – uma forte sensação de isolamento face ao inóspito.

Neon, de Rita Alfaiate é um dos lançamentos visualmente mais brutais dos últimos tempos de autoria portuguesa. A premissa futurista num mundo apocalíptico permite que a autora desenvolva páginas belíssimas em tons parecidos com o da capa. Finalmente, Em busca do Tintin Perdido destaca-se, também, pelo aspecto visual. O narrativo, sendo interessante e interessando-me, poderá não cativar todo o tipo de leitores, mas os desenhos de Ricardo Leite onde reconhecemos vários desenhadores clássicos de banda desenhada franco-belga são do melhor que existe.