Passaram-se 100 anos desde Shriek, e os gray caps dominam verdadeiramente Ambergris, a cidade que nos  tinha sido apresentada em City of Saints and Madmen.  Aproveitando as informações captadas ao longo de séculos, utilizam agora o medo como forma de controlar a população.

Para os que conhecem Ambergris dos livros anteriores, a cidade continua com a mesma aura de mistério e estranheza, carregada de micoses e cogumelos, agora agravada pelo domínio explícito dos gray caps, seres semelhantes aos humanos, provindos de uma outra realidade, com moral e hábitos próprios.

Finch é um inspector, um agente controlado pelos gray caps, escolhido para investigar o aparecimento de dois corpos num apartamento, um gray cap e um ser humano de identidade desconhecida, que apresentam marcas de ter sofrido uma grande queda. De forma a descobrir o que lhes terá acontecido, Finch terá de comer os cogumelos de memórias que se formam nos cadáveres. No entanto, estes não transmitem apenas recordações, também alguns aspectos da personalidade que irão transtornar Finch.

Durante a investigação, vamos descobrindo os acontecimentos dos últimos anos que terão moldado a cidade, e assistindo à transformação a que está a ser alvo – duas enormes torres estão em construção pelos gray caps, enquanto prédios inteiros são contaminados e substituídos por estruturas micóticas. Tal como os edifícios, também os seres humanos apresentam sinais de micoses, e a tecnologia dos gray caps rivaliza com a dos humanos, distinguindo-se pelas texturas orgânicas.

Mais sombrio que Shriek ou City of Saints and Madmen, Finch fecha a história de Ambergris, revelando a causa de vários acontecimentos que decorrem nos primeiros livros, desde o Silêncio, que terá marcado a cidade desde a sua fundação, à guerra entre duas poderosas fracções, ao desaparecimento de Shriek.

Melancólico e movimentado, Finch apresenta-nos um mundo inseguro em degradação que está prestes a desabar, centrando-se numa única personagem em colapso, de passado obscuro e deslocado. Se, nalgumas obras, a centralização poderia ser um aspecto negativo, neste caso, a introdução de outras personagens principais apenas iria servir para alienar o leitor ao sobrecarregar a acção.

Apesar de fechar a história dos volumes anteriores, Finch é uma história separada que pode ser enquadrado em vários géneros: mistério, fantasia ou ficção científica. Sem me arrebatar totalmente, gostei imenso. Ainda que a leitura não tenha sido muito rápida, a acção é constante, não deixando esmorecer o interesse pelos acontecimentos, pois existem sempre novos elementos que vão captando o leitor de forma diferente, desde tecnologia orgânica que é simultaneamente arrepiante e fascinante, a decisões que, embora compreensíveis, são inesperadas.