
É impossível não comparar a história de O Castelo dos Animais com o clássico de George Orweel, Animal Farm. Tal como no clássico, os humanos desapareceram e os animais encontram-se entregues a eles próprios organizando-se sobre o jugo de um grupo de animais déspotas. Tal como no clássico, a maioria dos animais trabalha arduamente a troco de uma mísera ração, enquanto os governantes vivem no conforto e na opulência, abafando qualquer tentativa de revolta – ao menos estão livres dos humanos e o preço a pagar por tal liberdade é o trabalho árduo.

Ultrapassando as semelhanças, as diferenças são suficientes para considerar O Castelo dos Animais indispensável – não só possui uma abordagem mais próxima do leitor, centrando-se numa personagem que cativa a nossa simpatia, como se apresenta mais como história, apresentando-nos uma diversidade de pontos de vista e diferentes aventuras.

Em O Castelo dos Animais quem manda é o touro. Animal mais forte que se oferece para a dura missão de chefiar, vive, na verdade, uma vida de luxos, apoiado pelos cães. Qualquer resquício de revolta ou de crítica encontra a violência canina resultando em morte.

A narrativa centra-se sobretudo numa gata, Miss B., que se vê obrigada a trabalhar na obra principal, deixando sozinhos as duas crias. O seu parceiro terá morrido na mesma obra. Ainda que se esforce bastante para carregar as pedras, Miss B. o rendimento não é suficiente para alimentar todos. Felizmente, Margarida, uma gansa, ajuda a tomar conta das crias e disponibiliza alguns botões para ajudar no sustento.

Até ao dia em que morre, aos dentes dos cães, por ousar professar dúvidas quanto à necessidade de se manterem sob o jugo do touro. Fala-se de um possível ataque de lobos, eminente – apenas impedido pela presença dos governantes que assim justificam a hierarquia. Este episódio, semente de revolta, será alimentada por um grupo de animais revoltados, que recorrem ao ridículo para porem em causa a autoridade dos governantes.

Em grande formato, de capa dura e aveludada, este voluma destaca-se, numa primeira abordagem, pelo visual. O desenho é expressivo e detalhado, oscilando entre diferentes planos que nos permitem acompanhar devidamente a história.
Ainda que aproveite uma premissa conhecida, a exploração da independência dos humanos é desenvolvida de forma tão diferente que se distancia bastante de outras histórias. Por um lado, os animais são apresentados com bastante personalidade, colocando-se a astúcia do lado dos oprimidos e a força bruta do lado dos opressores. Por outro, todo o grande poder pode ser posto em causa pelo membro mais insignificante da hierarquia – depende apenas da arma que se usa.

O Castelo dos Animais consegue ser, simultaneamente, uma leitura brutal e amorosa. As personagens desenvolvem-se de forma empática, os acontecimentos são apresentados com lógica, e apresentando animais como personagens é, na prática, uma excelente analogia a regimes totalitários que governam instigando o medo de um inimigo externo, justificando desta forma os piores horrores. Uma excelente leitura que se destaca na qualidade de edição!
Este é o primeiro volume desta série que é publicada em Portugal pela Arte de Autor.