Conheci a obra de Joe Hill, filho de Stephen King, com A Caixa em Forma de Coração, uma história de horror que não funcionou bem comigo. Felizmente voltei a tentar com Cornos e já fui presenteada com uma história que cruza horror com elementos fantásticos e o género cómico. É uma história leve e engraçada que coloca a personagem principal numa situação inusitada. Seguiu-se Locke & Key (I, II, III, IV, V, VI), uma série de horror com elementos lovecraftianos onde encontramos figuras míticas, usando uma premissa fantástica e fascinante. Tratou-se de uma leitura fabulosa, onde se nota uma grande evolução nas capacidades do autor, desenvolvimento várias linhas narrativas e criando twists com sucesso.

Basketful of Heads está e meio caminho entre Cornos e Locke & Key. É uma história contada apenas num volume, bastante mais linear que Locke & Key, mas recorrendo a alguns elementos absurdos para introduzir uma aura cómica que relaxam os momentos de maior tensão. É uma boa leitura, ainda que não excepcional.

A história

June vem ter com o namorado à ilha onde este passou o Verão a trabalhar como auxiliar do xerife. O clima é descontraído, típico de dois jovens que, têm em vista um futuro, mas ainda não têm os meios financeiros para tal. O casal é convidado para casa do xerife, mas a fuga de quatro prisioneiros acaba por os deixar sozinhos na casa.

O passo seguinte é óbvio. A casa é assaltada pelos quatro condenados. June esconde-se, mas o seu namorado acaba por ser raptado, por poder saber da localização de um objecto. Infelizmente, June sai cedo demais do seu esconderijo, e dá de caras com um dos fugitivos. Entre a fuga e a tentativa de defesa acaba por pegar num machado de exposição que se revela uma arma com estranhos poderes: as cabeças decapitadas com ele mantém a consciência e são capazes de falar.

O primeiro decapitado é, claro, o prisioneiro que June encontra ao sair do seu esconderijo. Após um momento de estranheza, quase bloqueio, June prossegue tentando salvar-se. Mas na primeira boleia percebe que o seu suposto salvador está associado aos fugitivos e acaba por ficar com duas cabeças faladoras.

A narrativa

Em Basketful of Heads Joe Hill consegue levar a narrativa ao extremo da sua premissa, manobrando com competência a fronteira que nos leva a suspender o pensamento crítico. A lógica por detrás do acontecimento fantástico é simples e entregue sem grandes detalhes (apenas os suficientes), dando-se antes primazia aos resultados da premissa – cabeças decepadas capazes de falar. E irritantes, ainda por cima.

A história possui uma tensão constante, intercalando entre o encontro da jovem com mais uma personagem e um novo momento de violência. Toda a história é contada na perspectiva da rapariga, usando-se diálogos com outras personagens para acrescentar nova informação e, consequentemente, novas interpretações. Não existe grande espaço para caracterização das personagens mas, ainda assim, o autor consegue transmitir, nas indecisões e na forma de interagir, o suficiente para se estabelecer uma personalidade.

O desenho

O visual não é extraordinário, ainda que seja sombrio (acompanhando os momentos de violência da série) e, de forma genérica, capaz de transmitir os momentos de tensão e de maior acção. Existem alguns detalhes anatomicamente menos correctos, mas não são suficientes para quebrar a leitura.

Conclusão

Bastketful of Heads entrega o que se espera neste tipo de narrativa – uma leitura tensa, com algum horror, onde existem pequenos detalhes absurdos de humor negro. A premissa é explorada de forma simplista, mas razoável, iterada sem se exceder, para não se tornar cansativa e repetitiva. É uma história curta e movimentada, sem introspecção, mas com reviravoltas competentes e um final satisfatório.