
E se, ao invés de um humano se transformar em barata, uma barata se transformar num humano? A premissa não é propriamente nova (já tinha sido explorada em Kockroach de Tyler Knox) mas aqui tem origem num conjunto de baratas com um objectivo concreto, assumindo o corpo de vários ministros do governo britânico.
Este grupo de ministros do governo britânico pretende rever o modelo de governação inglês, numa medida populista que leva o povo a acreditar no regresso dos bons e prósperos tempos. E não, o autor não se está a referir ao Brexit (ainda que possam ser interessantes alguns paralelismos), mas ao regressismo.
Então e afinal o que é o regressismo? Esqueçam a ideologia do Partido Regressista no Brasil, ou alguns significados mais esotéricos. Trata-se de uma ideia económica de reverter todo o fluxo monetário numa sociedade – neste modelo, as pessoas pagariam para trabalhar, mas receberiam dinheiro quando fossem às compras.
De um ponto de vista teórico, este modelo levaria ao influxo de bens de luxo pelos mais pobres, e à criação de imensos postos de trabalho (para que as entidades patronais recebessem mais dinheiro dos seus trabalhadores). Mas numa época de globalização, a aplicação de tal teoria (vendida ao povo como uma possibilidade de evolução social) tem elevados problemas logísticos, diplomáticos e económicos.
E aqui entram as baratas, ocupando os corpos dos vários ministros britânicos, com o objectivo de garantirem a implementação do regressismo – com que objectivo? Só saberemos no final.
A história é curta com momentos colocados de forma curiosa – a experiência de uma barata nos primeiros momentos no corpo humano é de estranheza, tanto pela anatomia humana, como pela forma como usamos cada um dos pedaços do corpo. Adicionalmente, as estratégias e a forma como se comportam é tão semelhante à humana que é impossível não se estabelecer um paralelismo entre os políticos e as baratas.
A leitura de A Barata é interessante mais pelo exercício do que pela premissa. A implementação de tal modelo económico traz alguns temas interessantes que são explorados de forma superficial numa história rápida e quase banal que não se quer tomada a sério.
A Barata foi publicado em Portugal pela Gradiva.