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Cada lançamento de um novo número da revista é uma celebração. De distribuição gratuita e impressão a cores, peca em formato apenas no grande tamanho da página que dificulta o transporte e a leitura em qualquer sítio que não seja a nossa casa. Mas passemos ao conteúdo. É de realçar o texto introdutório de George R. R. Martin à antologia recentemente publicada, Histórias de Aventureiros e Patifes, bem como o texto de João Seixas sobre Ray Bradbury. Encontramos, também, interessantes referências a Shirley Jackson e Lovecraft.

A revista inicia-se com uma introdução mais política de Safaa Dib, fruto dos tempos que ocorrem, relacionando esta temática com a ficção científica. A esta, segue-se o usual texto do editor Luís Corte Real sobre a colecção Bang! que auspicia boas novidades para os apreciadores de ficção científica: Annihilation de Jeff Vandermeer (Hooray), A Balada de Antel (vencedor do prémio Bang|) e a publicação de Terrarium de Luís Filipe Silva e João Barreiros numa nova edição revista. Ficou apenas a faltar a referência a uma data prevista para The Fifteen Lives of Harry August, livro que a editora chegou a anunciar o pré-lançamento para o retirar de imediato. Esperemos, então, um pouco mais.

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Uma das mais belas e simples capas de Annihilation

Ainda que me entusiasmem mais os lançamentos de ficção científica, não é de esquecer os próximos de fantasia, com a antologia, já publicada entretanto, Histórias de Aventureiros e Patifes, organizada por George R. R. Martin; ou The Witcher de Andrej Sapkowski. A estas futuras publicações seguem-se sugestões de outras obras, como o The Martian, ou o Estação Onze (um excelente lançamento da Editorial Presença).

A Arquitecturas da loucura em que Jorge Palinhos fala um pouco de cinema de horror (bem a propósito do Halloween) segue-se um texto de Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, Metais pesados. Ocupando uma página disserta sobre o snobismo da literatura dita séria em comparação com a literatura de género, escondida e marginalizada. Uma discussão que dá pano para muitas mangas – até porque quem se esconde da FC são essencialmente leitores de best-sellers que do género pouco ou nada sabem. Esta temática será novamente vislumbrada no artigo de João Seixas, em enquadramento distinto.

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A componente de não ficção continua com um bom artigo sobre Banda Desenhada por João Lameiras, sobre Simon du Fleuve, o herói da série de Claude Auclair, e com um artigo sobre cinema de horror de António Monteiro onde disserta sobretudo em torno do The Omen.

Todos adoram um patife é a próxima secção, o nome que foi dado para a transcrição do prefácio de Histórias de Aventureiros e Patifes, escrita por George R. R. Martin, um dos organizadores da antologia. Neste texto, George R. R. Martin aproveita para apresentar alguns bons vilões de cinema e de literatura que, decerto, farão o leitor procurar por alguns destes filmes e livros.

Apesar de não ser particularmente fã dos Iron Maiden (aprecio de algumas músicas, mas a globalidade da sua obra não corresponde aos meus gostos), achei interessante o artigo de Ricardo S. Amorim onde se destacam alguns dos temas literários integrados nos álbuns do grupo. Encontram-se assim referências tão variadas como Poe, Lovecraft ou C. S. Lewis, sobretudo de títulos de horror e ficção científica que terão sido aproveitados quer nas letras, quer nas capas.

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Seguem-se várias críticas a um dos mais recentes lançamentos fantásticos da Saída de Emergência, Rainha Vermelha de Victoria Aveyard, uma entrevista à autora e exposição de alguns factos e personagens que permitem introduzir à obra, cuja premissa exposta me recordou A Trilogia do Mágico Negro de Trudi Canavan (publicada em Portugal há alguns anos).

O Mythos Lovecraftiano nos jogos narrativos de Pedro Lisboa, debruça-se sobre um dos mestres do horror para dissertar sobre a influência nos vários meios que nos rodeiam, dando especial realce aos RPG’s.

De seguida, destaca-se o longo artigo sobre Ray Bradbury de João Seixas, O Futuro é hoje: alimentando as chamas, destruindo o cânone. Como não gostar de um artigo que, expondo alguns factos da vida do escritor, está carregado de referências às suas obras mais emblemáticas?

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Depois deste artigo, ponto algo da revista, os restantes surgem menos iluminados. O Trio Fantástico Carey, Durham e Hobb apresenta uma análise a três das sagas fantásticas que não me interessou o suficiente, o género de análise que possui variáveis como grau de paixão ou conflito que,  dissecando um pouco as séries, não é alto que goste de ler.

Figuras Clássicas do Terror traz-nos um conjunto interessante de ilustrações de monstros conhecidos, de diversos autores que referem um pouco sobre o método de criação da ilustração. Gostei particularmente do Olharapo e do Skeleton Army.

No final uma surpresa. A secção de Sugestões FNAC que já trouxe algumas referências insípidas, sugere agora Shirley Jackson, a autora de obras como Sempre vivemos no castelo ou The Lottery.

Em suma. Após 19 edições a Bang! continua de boa saúde e recomenda-se. Se considerarmos que a revista é gratuita, ainda mais. Notam-se novos nomes nos artigos, o que vai garantindo a introdução de novas ideias e conteúdos, mas nota-se, também, o aumento do conteúdo de propaganda às próprias obras da editora, Saída de Emergência. O que gostava que houvesse de diferente? Maior exposição do que se vai fazendo lá fora, e que quase não chega a Portugal.