Se o ano 2016 foi catastrófico em diversas áreas, na ficção especulativa, não sendo extraordinário, foi um ano muito razoável, ultrapassando o ritmo de 2015 e abrindo portas para um 2017 que promete.
Tivemos poucas visitas estrangeiras, quando comparamos com 2015 (marcado pela presença de David Brin na Leituria e por Lauren Beukes e Fábio Fernandes em Outras Literaturas entre muitos outros) mas a presença de Brandon Sanderson em Portugal, vindo da Eurocon em Barcelona foi um sucesso que levou muitos à FNAC, bem como a de Carlos Ruíz Záfon na Academia das Ciências. Com menor assistência mas, para mim, de maior destaque foi a vinda de Zoran Zivkovic para o lançamento de O Livro. De nota, a presença de Ken MacLeod nos Mensageiros das Estrelas, evento mais académico dedicado à Ficção Especulativa.
Olhando para os eventos regulares, Os Sustos às sextas tiveram uma segunda época de sucesso e estão já a preparar a terceira onde alguns detalhes mais literários aguardam o anúncio oficial. Resta-nos aguardar impacientemente! Também este ano o Scifi-LX pareceu mais consolidado voltando ao Pavilhão Central do IST com robots, jogos, livros, palestras e várias outras coisas muito geeks. O Fórum Fantástico também retornou ao espaço habitual, em Telheiras, com os usuais três dias carregados de eventos fantásticos – e já há datas para a edição de 2017 ( 29 de Setembro a 01 de Outubro). De temática não especulativa, Recordar os Esquecidos escorrega de vez em quando na ficção científica e na fantasia, destacando-se pelas tardes bem passadas no Saldanha, revendo livros e autores.
Mas 2016 também foi marcado pelo aparecimento dos Devoradores de Livros, uma tertúlia mensal que termina em jantar, que decorre na Leituria e onde se fala sobretudo de livros de ficção especulativa, mas não só. Ainda em solo nacional, João Barreiros apresentou Viagem ao retrofuturo, e deu-se especial destaque a António de Macedo, com o filme O Segredo das Pedras Vivas no MotelX, e o divertidíssimo documentário sobre a sua obra, Nos interstícios da Realidade. Ainda na Península Ibérica, mas fora de Portugal, é de destacar a forte presença portuguesa na Eurocon de Barcelona, associada ao evento Scifi-Lx e à Editorial Divergência, com Luís Filipe Silva a marcar presença em vários painéis.
A nível de publicações de ficção especulativa nacional, também não foi um mau ano, com o lançamento de Terrarium na Comic Con (mas apenas disponível nas livrarias a partir de 27 de Janeiro), de Galxmente de Luís Filipe Silva (nova edição), A Provocadora Realidade dos Mundos Imaginários de António de Macedo, Os Marcianos somos nós de Nuno Galopim, e da primeira antologia Cyberpunk portuguesa, Proxy, pela Editorial Divergência. Em caminhos mais internacionais, foi publicado um conto de um autor português, Mário de Seabra Coelho, na Strange Horizons!
Sem estranhar, a publicação de livros estrangeiros continua escassa e camuflada em etiquetas genéricas e pouco alusivas à ficção especulativa. Eis os que achei mais relevantes:
- O Terceiro Desejo – Adrzej Sapkowski – Saída de Emergência;
- Colecção Admiráveis Mundos da Ficção Científica (parceria Saída de Emergência e o jornal Público em que se destaca o lançamento de As primeiras quinze vidas de Harry August);
- Santuário – Andrew Michael Hurley – Bertrand Editora;
- Jurgen – James Branch Cabell – E-Primatur;
- Crash – Ballard – Elsinore;
- A Rapariga que sabia demais – M. R. Carey – Nuvem de tinta;
- Histórias de Vigaristas e Canalhas – Vários autores – Saída de Emergência;
- Kallocaína – Karin Boye – Antígona;
- O Livro – Zoran Zivkovic – Cavalo de Ferro;
- Aniquilação – Jeff Vandermeer – Saída de Emergência;
- O trono dos crânios – Peter V. Brett – Asa 1001 Mundos.
Sobre o ano de 2015, podem consultar a entrada equivalente, A ficção especulativa em Portugal – 2015.